Processo patenteado pela UnB obteve frutas mais vistosas, doces e suculentas. Equipe busca parceiros para comercializar.

O Brasil está em quarto lugar em produção mundial de tangerina, a maior parte delas, mais de 60%, pertencentes ao tipo poncã. Uma forma menos tradicional de produção dessa fruta, proposta por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), pode ajudar o país a aumentar a qualidade do alimento e impulsionar a comercialização. A partir de diferentes processos de enxertia ? união de duas partes vegetais para formar nova planta ?, eles obtiveram tangerinas mais gostosas, doces, suculentas, com melhor equilíbrio entre acidez e açúcar e com gomos mais vistosos. Quatro processos testados resultaram em patente concedida à UnB, mas a comunidade só poderá saborear a fruta, se houver parceiros interessados em comercializar.


A pesquisa foi feita pela engenheira agrônoma e professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) Josiana Zanotelli dos Santos. Ela avaliou as características das tangerinas colhidas no pomar experimental de tangerineira poncã da Fazenda Água Limpa (FAL) de propriedade da UnB. As frutas tinham sido produzidas a partir de cinco tipos de porta-enxerto, cada um de uma planta diferente, todos do gênero Citrus. Nesse procedimento, as copas das tangerineiras são iguais, mas há diferenças no sabor das frutas por conta das diferenças na eficiência das raízes?, explica a engenheira.


Para avaliar as características das tangerinas produzidas, a pesquisadora montou quatro grupos de oito pessoas treinadas para degustar as frutas. Durante três meses, as equipes se revezaram semanalmente nessa tarefa e preencheram uma ficha de avaliação sensorial dando notas para o aspecto do gomo, gosto, doçura, acidez, equilíbrio entre acidez e doçura, sucosidade, uma nota geral para todas as características avaliadas e o teste de preferência de consumo. Dos cinco porta-enxertos, quatro resultaram numa melhor qualidade da fruta durante maior parte do ano: tangerineira-Oneco, citrangeleiro-Morton, citromeleiro-Swingle 4475 e limoeiro-Rudoso da África.


VANTAGENS –
O resultado surpreendeu porque os porta-enxertos que deram os melhores frutos não são os mais usados na produção de tangerinas brasileiras. “Geralmente, usa-se o limoeiro-Cravo, que tem o inconveniente de ser bastante susceptível a uma doença conhecida como morte súbita dos citros e produzir frutos com menor qualidade”, diz Josiana. Ela propõe, então, a substituição do limoeiro-Cravo pelos porta-enxertos patenteados pela UnB. “Além de darem as frutas mais gostosas, são novas opção para a produção de tangerinas e poderiam ser usadas para porta-enxertos em laranjeiras”.


Comerciantes interessados em apostar nessa forma alternativa de produção da tangerina devem entrar em contato com o Núcleo de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia (Nupitec) do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB. Os técnicos da universidade estão dispostos a orientar os agricultores sobre o processo de enxertia e sobre a necessidade de pagamento de royalties.


“Sem dúvida, esse é um ótimo investimento, pois a tangerina é a fruta cítrica mais aceita pelas crianças, por ser fácil de descascar. Sem esquecer que é uma fruta cítrica com vitamina C, importante para o sistema imunológico e ajuda absorção de ferro no nosso organismo é e rica em fibras. Com um fruto mais saboroso, a aceitação seria ainda maior”, comenta Josiana.