Estudo da UnB revela que especulação imobiliária impede conforto térmico nas cidades e aumenta gastos com energia.

Modificar o tamanho máximo permitido para construção de edifícios em uma cidade traz conseqüências mais sérias do que o aumento da especulação imobiliária no local. Pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) mostra que essas alterações são responsáveis por mudanças no clima urbano. As construtoras não costumam levar em consideração pesquisas que calculam o impacto do tamanho e da posição dos prédios sobre a circulação de vento. Com isso, o resultado é menos conforto térmico dentro das residências e mais gasto energético pela maior utilização de ventiladores e ar condicionados.


A arquiteta Valéria Morais Baldoino de Souza demonstra essa teoria na dissertação A influência da ocupação do solo no comportamento da ventilação natural e na eficiência energética em edificações, defendida em julho de 2006. Seu estudo de caso foi feito em um bairro localizado em região de expansão e valorização urbana de Goiânia (GO), mas segundo a orientadora, a professora Marta Romero, poderia ser aplicado em qualquer localidade do país.


Para realizar o trabalho, a pesquisadora partiu da legislação da cidade e simulou oito formas de ocupação do solo, com variação de tamanhos e posição dos edifícios, em três quadras típicas do bairro residencial Jardim Goiás região B. Para cada uma das propostas, ela verificou a circulação do vento nas fachadas dos prédios. Os testes foram feitos com o simulador computacional MicroFlo, que simulou três velocidades e direções predominantes de vento para Goiânia.


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Segundo a pesquisadora, se todos os edifícios das quadras tivessem o número máximo de pavimentos permitido, a circulação do vento na localidade teria velocidade muito reduzida. “Dessa forma, com o intuito de garantir seu conforto, o morador poderia usar o ventilador ou o ar condicionado, o que elevaria o gasto energético”, diz Valéria. Nos testes, a baixa ventilação era caracterizada quando a fachada recebia uma velocidade de vento menor do que 1 m/s.


Na opinião da orientadora, as conseqüências são negativas não só para a qualidade de vida dos moradores, mas também para o país, que tem como uma das metas de crescimento sustentável a redução dos gastos de energia. ?Além disso, existe uma desvantagem para a cidade, porque um bairro pouco arejado passa a ser desvalorizado?, completa Marta.


Em outro teste realizado, foram colocados edifícios altos e baixos lado a lado, além do escalonamento do mais baixo ao mais alto em duas direções. ?O estudo mostrou que o conforto térmico das moradias é maior quando há alturas variadas entre os prédios intercalados?, diz Marta.


Ela acredita que a pressão dos especuladores imobiliários gera impacto negativo na qualidade de vida nas cidades. ?A ganância é justificável até certo ponto, pois estamos no capitalismo, mas é preciso ter limites?, critica.


Segundo Valéria, é necessário que seja feito um estudo como esse para avaliar a situação de Brasília. A cidade é tombada pela Unesco e registrada como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Apesar disso, em algumas áreas é possível perceber o descumprimento de leis que determinam as normas para construções na localidade.