Parcela de trabalhos de graduandos em periódicos de Ciência da Informação chega a um terço do total. Professores acreditam que dados refletem incentivos à iniciação científica.

Pesquisa da Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da UnB constatou que a contribuição de graduandos na publicação de artigos científicos em periódicos de cinco áreas é maior do que se imaginava. Segundo o estudo, quase um terço dos artigos com mais de um autor publicados em revistas brasileiras de Arquivologia, Ciência da Informação, Biblioteconomia, Documentação e Museologia têm origem em trabalhos de conclusão de curso (TCC) ou iniciação científica (IC). 


Gabriela Bentes, estudante de biblioteconomia, descobriu que 32% do total de 109 alunos que assinaram artigos junto com um professor orientador desenvolviam trabalhos na graduação. A amostra veio de um universo de 638 artigos publicados em periódicos da área entre 2005 e 2009 – todos armazenados na base de dados Artigos ABCDM, da FCI, e assinados em parceria por orientador e orientandos (Veja quadro no final da matéria). “O resultado pode ser um reflexo da intensificação das políticas de iniciação científica dos últimos anos”, acredita Jayme Leiro, orientador do estudo.


“O percentual de projetos de graduação publicados em periódicos chega a ser maior do que o de artigos assinados por doutorandos – que foi de 22%”, destaca Jayme (Veja gráfico). Segundo o professor, os números causaram espanto quando foram apresentados durante o XII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB), em outubro de 2011. “Algumas pessoas até duvidaram que os dados fossem consistentes”.

ANÁLISE - Contudo, os dados apresentados no encontro não deixam dúvidas quanto a relevância do estudo: o professor Jayme, juntamente com a professora Suzana Mueller, da FCI, repetiram a mesma análise de Gabriela com outros critérios. “Tomamos por base o percentual sobre um total de 100 artigos e os resultados foram muito parecidos”. No levantamento de Jayme foram identificados 30 artigos assinados por graduandos junto com seus orientadores contra 22 de doutorandos.


“A polêmica surge porque uma área que ainda depende muito da graduação para publicar não é vista como consolidada”, afirma. O professor pondera, no entanto, que os dados podem ter seu lado positivo – como o de que os estudantes estão sendo iniciados na pesquisa cada vez mais cedo. “Ainda não podemos afirmar com segurança se estamos realmente diante de uma tendência de crescimento, mas é uma hipótese plausível”.


O diretor de Fomento à Iniciação Científica do Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação, Mário César Ferreira, ressalta que os incentivos à pesquisa entre graduandos estão por trás do crescimento da produção acadêmica. “Podemos afirmar que as bolsas de iniciação científica impulsionam a pesquisa e podem estar relacionadas ao aumento de graduandos que dividem a autoria de artigos da área, como mostra o estudo”.


CAUTELA -
 Mário César recomenda cautela na generalização dos resultados da pesquisa de Gabriela. “Não temos dados suficientes para afirmar que o mesmo está acontecendo em outras áreas”. Para o professor, é certo que os estudantes que dão os primeiros passos na pesquisa ainda na graduação acabam se envolvendo na linha de pesquisa de seus orientadores. “Mas mesmo que eles contribuam para a conclusão de um artigo nem sempre eles participam como autores da pesquisa“.


Para Gabriela, ela mesma um exemplo de pesquisadora precoce, a oportunidade de participar de um estudo com resultados importantes foi impagável. “O trabalho teve uma repercussão maior do que eu imaginava”, conta a aluna, que participa desde o quarto semestre do Grupo de Pesquisa Comunicação Científica, coordenado pela professora Suzana Mueller. “Fiquei feliz em colaborar”.


A aluna partiu dos resultados da tese de doutoramento do professor Jayme Leiro – que associa a influência dos artigos escritos em parceria no aumento da produção científica em ciência da informação – para escolher o tema da monografia. “Escolhi estudar as orientações, que são uma das formas de publicar artigos em parceria”.


Acesse aqui a íntegra do artigo apresentado no ENANCIB

 

Base de Dados

A plataforma Artigos ABCDM, criada pelo Grupo de Pesquisa Comunicação Científica, existe desde 2001. Ela reúne artigos de mais de 30 publicações e abrange quase quatro décadas de produção científica. “Fazemos pesquisa para entender melhor toda essa produção desde 2005”, afirma Jayme.