Estudo de caso em escola de Taguatinga mostra alunos divididos entre melhores e piores e professores preocupados apenas com notas.

Identificar as dificuldades dos alunos e ajudá-los a superá-las deveria ser o papel da escola, mas um estudo realizado na Universidade de Brasília revela que os colégios públicos do Distrito Federal estão mais preocupados em reduzir o índice de repetência e elevar o padrão de desempenho da instituição do que em formar estudantes. “Os alunos são máquinas que reproduzem exercícios e não aprendem o conteúdo. Se são colocados diante de um mesmo problema, mas sob uma abordagem diferente, não sabem resolver”, explica Letícia Araújo, autora da dissertação A avaliação na escola: um olhar além da sala de aula, defendida em maio de 2009, na Universidade de Brasília.


A pedagoga acompanhou, durante um ano, uma escola pública que atende crianças de seis a dez anos, localizada em Taguatinga, no Distrito Federal. Ela queria descobrir como os alunos são avaliados e quais as consequências do método adotado pela escola. Percebeu que o projeto político-pedagógico está muito distante da realidade no local.

Por meio de entrevistas, questionários, análise de documentos, conversas informais e muita observação, a pesquisadora concluiu que o método adotado na escola não intermedeia a aprendizagem do aluno; servia apenas para classificá-lo entre os melhores ou entre os piores. “Era comum escutar as crianças dizendo que o coleguinha era atrasado ou burro”, conta Letícia.  O método classificatório é usado também para dividir as turmas, o aluno que não acompanha a classe como “deveria” é direcionado para a sala de aula dos mais “fracos”.

Letícia constatou que a maior preocupação da escola não é com a aprendizagem, mas com a diminuição das reprovações e a melhor classificação da escola em provas aplicadas pelo governo. Segundo a pesquisadora, em 2008, o colégio de Taguatinga passou por três avaliações externas. Uma delas, a Prova Brasil, aplicada em alunos de 4ª a 8ª série do ensino fundamental. “Nesse período, a escola parecia não ter outros alunos senão aqueles que fariam a avaliação”, conta Letícia.

A direção da escola chegou a cogitar em analisar as provas preparadas pelo governo para direcionar as aulas. “São escolas que preparam para pré-vestibulinhos, não se preocupam em ensinar”, explica. A pesquisadora conta que participou de reuniões em que o principal assunto era o 14º salário - uma gratificação para a equipe da escola que obtiver bons resultados na prova.
A pesquisa mostrou que no colégio, uma das principais diretrizes que norteia o ensino - formar cidadãos críticos – foi substituída por um sistema de avaliação punitiva, que classifica e estigmatiza.

Apesar de ter feito esse estudo em um colégio público do DF, a pesquisadora acredita que a realidade dessa escola se repita em outras instituições brasileiras. Mesmo assim, não deixa de acreditar no trabalho sério que é feito. "Existe muito compromisso por parte das pessoas que acreditam na educação pública como um meio de transformação social, mas são ações que ainda se apresentam de forma isolada", afirma.

Para Letícia, que hoje é diretora pedagógica em uma escola com mais de dois mil alunos, a saída é promover uma integração entre todos os funcionários da escola para elaborar uma avaliação mais completa, que enxergue o aluno como uma pessoa única, com limitações e possibilidades. “O aluno deve ser avaliado desde o momento que ele chega à escola, pelo porteiro, pela secretária, pela diretora e por professores”, avalia.