Estudo desenvolvido pelo Instituto de Psicologia mostra que as mulheres se arrumam porque, bem produzidas, se sentem melhor. Para garantir a produção, imitam padrões de beleza do cinema e da novela e não passam mais que 15 dias sem ir ao salão.

Parecer bonita aos olhos dos outros ou satisfazer os próprios olhos? Pesquisa realizada a partir de entrevistas com mais de mil mulheres de todo o país mostra que elas se arrumam simplesmente porque, bem produzidas, se sentem melhor. Ao mesmo tempo, ao se arrumarem, procuram reproduzir um padrão de beleza que viram em um filme, em uma revista ou em uma novela.


O estudo conduzido por Amalia Pérez e apresentado como tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações revela ainda que, para garantir o visual desejado, as mulheres visitam o cabeleireiro, em média, uma vez a cada 15 dias e lêem pelo menos uma revista de moda por mês. “Percebi que as mulheres se arrumam não porque estão se sentindo horrorosas, mas simplesmente porque querem se sentir ainda melhor. É uma busca contínua e, quanto mais se arrumam, mais experts no assunto vão se tornando”, afirma a pesquisadora.


Orientada pelo professor Cláudio Torres, Amalia Pérez utilizou três métodos para chegar aos resultados. A conclusão de que as mulheres se arrumam para garantir o próprio bem-estar veio do primeiro deles, uma entrevista que realizou com 25 mulheres do Distrito Federal. A satisfação pessoal como razão para se produzir prevaleceu dentre as respostas mais freqüentes nos grupos de mulheres que a pesquisadora denominou vendedoras de serviços de beleza, um total de 10, e consumidoras ou vaidosas, que somaram oito. Entre as vaidosas, a freqüência da resposta foi de 33,3%. Já entre as profissionais de beleza, o índice foi de 38,6%.


Entre as mulheres consideradas não vaidosas pela pesquisadora, um total de sete, a resposta mais freqüente foi a de que elas se arrumam porque a beleza é importante para ser reconhecida na sociedade. A produção para o próprio bem-estar apareceu como a segunda resposta mais mencionada, com 22,5%. “Notei que o discurso das mulheres vaidosas e não vaidosas não é muito diferente” afirma Amalia, que não esperava esse resultado uniforme.


Também chamou a atenção da pesquisadora o fato de que as mulheres não vaidosas percebem seu comportamento em relação à estética como uma exceção. “Elas dizem: eu não me arrumo. Só para trabalhar e para sair com os amigos. Ou seja, se arruma todos os dias, mas como se isso fosse uma obrigação”, explica Amalia.


CELEBRIDADES –
 Amalia também analisou os fatores que impactam nos cuidados com a beleza que as mulheres adotam. A tentativa de repetir padrões vistos nos filmes, revistas e novelas foi a resposta mais mencionada entre as vaidosas e não vaidosas. No grupo das vaidosas, o índice da resposta foi de 40,7%. Entre as não vaidosas, ficou em 34,6%. Já no grupo de mulheres consideradas como vendedoras de beleza, a resposta foi a segunda mais mencionada, com 14,5%. “Elas afirmam que muitas clientes se espelham em personagens das novelas e querem ficar igual a elas”, afirma Amalia.


Os meios utilizados para atingir a beleza desejada são, principalmente, o uso de cosméticos. O uso do tradicional batom, lápis de olho, rímel e até uma base, uma sombra, um pó compacto ou um blush prevalece como os mais mencionados nos três grupos de mulheres analisadas, com 58,3% de freqüência para as vaidosas, 50% para as não vaidosas e 30,9% para as profissionais.


Ao mesmo tempo, os cosméticos são os produtos mais recomendados em revistas de moda e beleza analisadas por Amalia em outra etapa do estudo. Sugestões de uso dos produtos representam 63,8% do conteúdo de 30 revistas nacionais e estrangeiras avaliadas pela pesquisadora. Os periódicos tratam a beleza como um fim em si mesmo. Setenta por cento do conteúdo apresenta esse direcionamento. Os outros 30% tratam a beleza como um meio para atingir outro fim, em geral um emprego, um namorado, uma posição social.


EXPERTISE –
 A diferença observada entre os grupos de mulheres denominadas profissionais de beleza e vaidosas está na expertise, ou seja, no treino: as mulheres que compram produtos de estética com freqüência conhecem termos mais técnicos e formas mais eficientes de, por exemplo, passar o blush sobre as bochechas.


Sandra da Cruz, funcionária de uma loja de cosméticos do Distrito Federal, acredita que as mulheres também gostam de se arrumar para seus parceiros. “A maioria das clientes vem acompanhada do marido e sempre pede opiniões, principalmente quanto à cor de batom. Já vi vários casos do marido não gostar da cor e ela trocar por outra que ele prefira”, conta Sandra. A vendedora admite que se cuidar para os outros também a incentiva, mas a principal razão por usar maquiagem todos os dias é gostar do efeito em si mesma. “Eu gosto mesmo, e muito. Olhar no espelho e ver aquela cor no rosto, os detalhes, isso tudo me faz sentir bem”, conta.


SALÕES –
 Foi ao analisar a expertise das mulheres que a pesquisadora chegou aos dados de idas aos salões de beleza. Amalia aplicou um questionário eletrônico em todo o país, ao qual responderam 953 mulheres, para investigar a frequência de comportamentos ligados ao consumo de beleza que levam ao treino nessa área. Os tópicos escolhidos foram comentar sobre a beleza, se informar sobre ela ou usar produtos e serviços cosméticos.


Após calcular os pontos de todos os questionários, a pesquisadora chegou à conclusão de que o uso de produtos é a forma mais frequente de treino entre as mulheres, sendo realizado em uma média semanal. Ir a um salão de beleza aparece logo atrás, de 15 em 15 dias, empatando com os comentários sobre a beleza. Ler sobre o assunto, entretanto, não é tão comum, sendo realizado apenas mensalmente. “O que faz as mulheres irem ao salão, por exemplo, é o fato delas irem ao salão. Quem vai uma vez, vai de novo, e as pessoas se tornam experts por isso, por conviver no ambiente, aprender a falar e entender sobre o assunto”, explica Amalia.


A contadora Sabine Miranda é uma das que se consideram expert em beleza. “Desde pequena eu gosto muito de me maquiar, fazer as unhas, a sobrancelha, tanto que só vou ao salão para cortar o cabelo, o resto consigo fazer sozinha”, conta. Sabine afirma que compra produtos praticamente todos os dias e não se importa de gastar dinheiro com cosméticos. “Eu adoro maquiagem, realça a beleza da mulher e a faz se sentir mais segura. Isso influencia em tudo: se ela está bem com ela mesma, vai ficar bem no trabalho, na vida amorosa, em tudo”, explica a contadora.


Todos os métodos utilizados foram baseados em diferentes estados do comportamento de consumo automático ou, simplesmente, automatismo, processo que, ao contrário da ação controlada, envolve pouca atenção, raciocínio ou memória, e alto treino. Um exemplo de comportamento automático é a mulher que pinta o próprio cabelo e é capaz de realizar essa tarefa em menos tempo e com mais excelência do que mulheres não acostumadas a pintar o próprio cabelo.