Pesquisadores questionam relações políticas e econômicas desiguais entre países da América Latina quanto a projetos de desenvolvimento e infraestrutura.

A integração energética na América Latina, as conexões de transportes entre Brasil, Peru e Bolívia e os danos sociais e ambientais e sociais na região amazônica gerados pela exploração privada do setor hidrelétrico foram temas debatidos, nesta terça-feira, 12 de junho, no Seminário Internacional Desenvolvimento e Integração Regional - revisões críticas e alternativas. Com a presença de professores e pesquisadores convidados, a iniciativa foi do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (Ceppac) em ocasião aos 25 anos de sua criação.


Em vídeo-conferência, Manuel Gonzalo Chávez Alvarez, da Universidad Católica San Pablo, expôs as questões políticas e macroeconômicas que envolvem o gasoduto Brasil-Bolívia. Segundo o professor e consultor do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, é necessário pensar na integração energética da América Latina pelo fato de haver uma flagrante assimetria entre os dois países por onde passa o gasoduto. "Apesar da afinidade ideológica e proximidade política entre os governos de Lula e Evo Morales, depois da nacionalização do setor e a retirada progressiva dos investimentos da Petrobras, as negociações têm sido duras e a Bolívia tem perdido competitividade. Por causa do pré-sal e outras fontes, o Brasil não depende mais do gás boliviano", disse. Para Alvarez, "não há como negar a existência desse fantasma do sub-imperialismo brasileiro", aproveitando para defender "a necessidade de um projeto de integração produtiva e econômica que ultrapasse, de fato, projetos circunstanciais, matizados por alianças políticas".


Já o doutorando Ailton Dias, diretor do Instituto Internacional de Educação do Brasil, apresentou sua pesquisa sobre as conexões de transportes entre Brasil, Peru e Bolívia a partir do programa Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). Pela sua análise, o histórico dessa integração viária entre esses três países é marcado por tensões e conflitos, especialmente após o século XIX. Os sistemas multimodais de transportes, os chamados "corredores" no eixo Peru, Brasil e Bolívia, que interligam os oceanos Pacífico e Atlântico, por exemplo, têm chamado atenção das autoridades.


Ailton critica a ênfase conferida aos aspectos logísticos. "E os enormes passivos ambientais e sociais decorrentes dessa exploração viária ambiciosa e, muitas vezes, apressada, sem considerar que, ao longo das estradas, há pessoas, famílias, dramas reais", questiona, mencionando os graves problemas de tráfico, segurança, migrações internas que vêm junto com estradas e pontes, a exemplo das malhas viárias na Amazônia e a conexão entre Brasil e Paraguai. "Assistimos a uma continuidade de um pensamento periférico, de manutenção de desigualdades. É fundamental repensar essa agenda de obras de infraestrutura em escala continental sob outra perspectiva", defende.


Por fim, o professor da Universidade Federal de Rondônia, Luis Fernando Garzon, falou sobre a fronteira hidrelétrica na Amazônia e os prejuízos sociais e ambientais trazidos pelas grandes obras beneficiadas pelo PAC, como as barragens no Rio Madeira e o conseqüente impacto sobre as economias locais e as comunidades ribeirinhas. Garzon critica o que chama de passividade e permissividade dos governos em benefício de grandes conglomerados empresariais, financiados pelo BNDES.