Professor Joaquim Pereira Brasil Neto, do Instituto de Ciências Biológicas, é um dos organizadores do primeiro Tratado de Neurologia brasileiro, com a colaboração do médico neurologista Raimundo Nonato.

O Brasil agora conta com um amplo e aprofundado material de referência para o estudo do sistema nervoso e seus males. Após quase três anos, o primeiro tratado brasileiro voltado para a área de Neurologia será lançado oficialmente durante o 9º Congresso Paulista de Neurologia, que acontece em Guarujá (SP), nesta quinta-feira (27). A obra foi produzida pelos professores Joaquim Pereira Brasil Neto, diretor científico da Academia Brasileira de Neurologia e docente no Instituto de Ciências Biológicas da UnB, e Osvaldo Takayanagui, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).


“Tratados de Neurologia sempre existiram, com a predominância da literatura inglesa e, mais no início do século, da literatura alemã e francesa. Até os dias atuais, a maior parte da bibliografia médica para a Neurologia brasileira está disponível em outros idiomas e não em português”, explica o pesquisador da UnB. Diante dessa realidade, os organizadores do compêndio decidiram elaborar um material totalmente brasileiro. “Poderíamos conseguir os direitos de um tratado estrangeiro já existente, traduzir para o português e publicar com o aval da Sociedade Brasileira de Neurologia, mas optamos por fazer um livro nosso, escrito com os próprios especialistas brasileiros”, diz Joaquim Neto.


Além do idioma, o tratado brasileiro aborda justamente as especificidades da Neurologia nacional. “As doenças neurológicas têm uma distribuição geográfica diferente, certas patologias são mais comuns nos Estados Unidos e outras são mais comuns aqui”, afirma o docente da UnB. Ele cita o exemplo da Neurocisticercose (NCC), uma infecção no sistema nervoso causada por parasita, devido à ingestão de água ou de alimentos contaminados com ovos da larva Taenia solim, comuns em carne vermelha mal passada e verduras pouco higienizadas. “Doenças infecciosas são pouco abordadas nos tratados estrangeiros, mas serão contempladas no nosso livro”, completa Joaquim.


O professor Joaquim destaca que, mesmo no Brasil, um país tão grande, certas doenças são mais recorrentes em determinadas regiões, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) ocasionado por Doença de Chagas, corriqueiro em Minas Gerais e menos comum em outras regiões do país. Por essa razão, o tratado teve a colaboração de mais de 160 especialistas, renomados médicos e estudiosos com atuação em 20 núcleos de pesquisa diferentes e oriundos de todas as regiões do país. Entre eles, o médico neurologista do Hospital Universitário da Universidade de Brasília, Raimundo Nonato Rodrigues, que escreveu um capítulo sobre os transtornos do sono.


O livro, além de compilar as doenças cerebrais mais frequentes no Brasil, pretende servir como material de estudo e consulta a recém-formados e residentes, além dos que pretendem realizar prova de título na área de Neurologia, ou já praticam outras especialidades médicas. “A Neurologia sempre foi considerada uma especialidade difícil, e os médicos fogem dessa especialidade. Outra coisa que afugenta é a falta de material em português. Acho que esse livro vem preencher essa lacuna”, avalia Joaquim Neto. A obra já está disponível para compra no site da Editora Elsevier.


Apoena Pinheiro/UnB Agência