Antecipar um retorno seguro ao trabalho para médicos e enfermeiros ajuda o sistema de saúde. Projeto já está em vigor no HUB

Pedro Ventura/Agência Brasília

A alta transmissibilidade do novo coronavírus está afetando de forma significativa parcela considerável de médicos, enfermeiros, recepcionistas, agentes de saúde e demais trabalhadores da área que lidam diretamente com pacientes infectados. Em meados de maio, 31,7 mil profissionais de saúde já haviam sido diagnosticados com a covid-19 em todo o Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.

 

Pensando na necessidade de adotar medidas mais eficazes para proteger esses profissionais sem desfalcar a força de trabalho, professores da Universidade de Brasília elaboraram um novo protocolo para testar a presença da covid-19 nesse público específico. O protocolo utiliza o RT-PCR, que é um teste mais específico para o diagnóstico da doença, e estabelece ainda um cronograma de várias testagens ao invés da realização de um único exame.

 

O projeto, batizado de Force 1, é coordenado por Licia Maria Henrique da Mota, professora da Faculdade de Medicina da UnB, e conta com a colaboração de uma equipe heterogênea de profissionais, oriundos do Comitê de Pesquisa em Covid-19 do Hospital Universitário de Brasília (HUB). São mais de 20 profissionais, entre professores da UnB, como os da pós-graduação da Faculdade de Medicina; médicos; enfermeiros; farmacêuticos, além de outros profissionais da saúde do HUB e pesquisadores voluntários.

 

No caso do Force 1, além da professora Licia, os médicos do HUB Cleandro Pires e Patrícia Shu estão diretamente envolvidos na pesquisa. Equipes da área de Otorrinolaringologia e Oftalmologia do HUB também estão prestando apoio direto no projeto, auxiliando na coleta das amostras utilizadas nos exames. 

 

“O novo protocolo permite um retorno antecipado ao trabalho, mas com segurança. O profissional só retorna ao trabalho no momento em que dois testes derem negativos, demonstrando que não há risco de transmissão. É um protocolo mais rigoroso em relação a outros vigentes. Ele tenta devolver, quando possível, o profissional mais precocemente para o trabalho, mas ele só retorna quando houver realmente segurança de que ele não vá contaminar outros”, explica a professora Licia.

 

A proposta é uma das aprovadas em chamada pública para iniciativas com foco no enfrentamento da pandemia, promovida pelos decanatos de Pesquisa e Inovação (DPI) e de Extensão (DEX) e pelo Comitê de Pesquisa, Inovação e Extensão de combate à Covid-19 (Copei) da UnB.

O projeto foi batizado de Force 1 e é coordenado pela professora Licia Maria Henrique da Mota, da Faculdade de Medicina da UnB, responsável pelo Serviço de Reumatologia do HUB. Foto: Estúdio Valdetaro

 

SEGURANÇA O novo protocolo já está sendo adotado no HUB. Até agora, o procedimento conseguiu um retorno antecipado e seguro ao trabalho dos profissionais de saúde afastados por suspeita de covid-19, mas que não foram efetivamente infectados.

 

Atualmente, existem vários protocolos de testagem para os profissionais de saúde no Brasil e em outros países. Cada estado e cada cidade têm a liberdade de adotar o seu. Existe aquele preconizado pelo Ministério da Saúde, direcionado em especial para os trabalhadores que atuam na rede pública. Este estabelece que, ao apresentar algum sintoma respiratório ou febre, o profissional de saúde deve se ausentar imediatamente do trabalho por 14 dias.

 

“O foco do novo protocolo é determinar um tempo de afastamento adequado para cada situação. Levamos em conta que a ausência desses profissionais do trabalho faz com que a capacidade de atendimento à população, já sobrecarregada, diminua ainda mais”, explica a professora Licia, que é também responsável pelo Serviço de Reumatologia do HUB.

 

A principal diferença do novo protocolo proposto pelos professores da UnB para os demais adotados é que ele aplica múltiplos testes RT-PCR, considerados padrão-ouro para diagnóstico da Covid-19.

 

O RT-PCR é feito com base na detecção de material genético viral por técnica de reação em cadeia de polimerase com transcriptase reversa, que normalmente atesta positivo no início da infecção e até mesmo antes da manifestação dos primeiros sintomas.

 

O novo protocolo estabelece que suspeitos de covid-19 assintomáticos ou indivíduos que apresentem sintomas respiratórios ou febre sejam submetidos a múltiplos testes RT-PCR no primeiro dia, no sétimo dia e, eventualmente, no décimo e no décimo terceiro dia.

 

TESTES – Para embasar artigo científico, o estudo será submetido a um ensaio clínico, com a participação de profissionais de saúde de hospitais universitários brasileiros afastados do trabalho por suspeita de covid-19. Os participantes serão dispostos aleatoriamente em dois grupos: o primeiro seguirá o novo protocolo e o segundo seguirá a conduta de afastamento do trabalho por 14 dias.

 

O ensaio clínico será multicêntrico, pois vai acontecer em vários hospitais da rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e será considerado de superioridade. “Superioridade porque o estudo foi desenhado com a finalidade de demonstrar que um protocolo de múltiplas testagens é superior ao protocolo de não testagem ou de uma única testagem”, explica a professora Licia.

 

“Se o afastamento for curto demais, o indivíduo volta ao trabalho ainda infectante, podendo contaminar outros colegas de trabalho ou outros pacientes. Por outro lado, se o afastamento for prolongado demais, pode haver ônus para o sistema de saúde, porque há uma redução do número de profissionais trabalhando”, resume a médica.

 

Nesse momento, o projeto não tem fonte de financiamento externa. O próprio HUB está arcando com os custos da iniciativa e o Laboratório Central do Distrito Federal (Lacen-DF) está realizando os exames nas amostras coletadas nos profissionais de saúde.

 

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