Segundo pesquisadores, prática pode ajudar alunos a lidar com ansiedade e estresse

Foto: Millena Campello/Agência Facto

 

Suor excessivo, falta de ar, tontura e mãos frias podem ser sintomas de ansiedade e estresse, problemas que atordoam parte dos universitários brasileiros. Essas enfermidades estão cada vez mais presentes no dia a dia dos estudantes e existem vários fatores que podem levá-los a desenvolverem essas condições. Por isso, estudos que buscam entender um pouco mais essas doenças e como tratá-las estão cada vez mais comuns.

 

De acordo com a pesquisa realizada por Stelamares Menezes da Silva para seu Trabalho de Conclusão de Curso, a meditação é conhecida como um instrumento terapêutico e, no campo da psicologia, por exemplo, é utilizada como auxiliar no tratamento de doenças mentais e na diminuição do estresse e da ansiedade. Ainda segundo a autora, há um consenso entre os que pesquisam sobre a meditação: "essa é focada na concentração e atenção", habilidades de extrema importância no âmbito profissional.

 

O estudo de Stelamares foi realizado no centro de meditação Sahaja Yoga, unidade de Taguatinga Norte, por meio da observação participante. Foram feitas cinco entrevistas com os voluntários desse centro, além de revisão bibliográfica, e foi possível experimentar as técnicas meditativas para compreender como podem ser aplicadas como terapia.

 

BENEFÍCIOS – A meditação possui vários benefícios e aspectos que vêm sendo cada vez mais estudados. Para o doutor em Ciências do Esporte, professor Marcelo de Brito, o mais interessante é sua correlação com a saúde. “O desdobramento na saúde é evidente e tem qualidades que são benéficas demais para um ser vivente, que é ter foco, presença, atenção, buscar a verdade, buscar a si mesmo", declara, ao falar das consequências da meditação.

 

Ele explica que essa prática vai muito além de ser apenas um conjunto de técnicas aplicadas num determinado horário do dia para relaxar. "Meditação é o que acontece na sua vida no momento em que você foca e se conecta com a sua respiração, com o presente, com a dinâmica do corpo. Nesse momento, você está entrando no espaço de limpeza mental, e aí você começa a meditar", conta o docente.

Na FEF, meditação é disciplina concorrida entre estudantes. Foto: Agência Facto
Na FEF, meditação é disciplina concorrida entre estudantes. Foto: Millena Campello/Agência Facto

 

Marcelo conta que foi exatamente esse aspecto da atividade que o conquistou desde o primeiro momento. "O alívio à inquietude mental e a energia que me trouxe foi incrível", lembra. "Mudou minha vida, me trouxe paz e sabedoria."

 

O professor afirma que a meditação não é utilitária. “É como brincar. Quem descobre isso medita lavando prato, limpando a casa, fazendo construção, caminhando e andando de bicicleta", disse, ao explicar que as crianças meditam naturalmente, mesmo sem saber, pois, "elas estão tão atentas e tão inteiras no que estão fazendo que aquilo entra no espaço de integração cósmica, transcende".

 

Para o docente, a busca pelo autoconhecimento – um dos muitos benefícios proporcionados pela meditação – é fundamental na vida acadêmica e também na pessoal, pois ao se conhecer melhor, o indivíduo pode analisar os fatos que o rodeiam de forma mais abrangente. "O acadêmico deveria ser uma pessoa muito interessada em se conhecer, em ir além da mesmice horizontal da vida", acredita.

 

O desejo de que todos pudessem ver as mudanças proporcionadas pela meditação na vida dos participantes do projeto Movi-Mente, criado por Marcelo, o levou a fazer a tese de doutorado. "É uma experiência que unifica", contou.

 

Ciente dos benefícios da meditação, a Universidade de Brasília criou a disciplina Meditações Ativas, atualmente ministrada pelo professor Marcelo de Brito. O objetivo é levar a prática para todas as pessoas que queiram praticar, para que possam não só se autoconhecer, mas também descobrir novidades – o professor considera a idade de seus alunos "uma fase tão bela de descobertas".

Formulário ajuda o professor da FEF Marcelo de Brito a saber o impacto emocional que suas aulas têm sobre os alunos. Foto: Agência Facto
Formulário ajuda o professor da FEF Marcelo de Brito a saber o impacto emocional que suas aulas têm sobre os alunos. Foto: Millena Campello/Agência Facto

 

As 60 vagas ofertadas para essa disciplina são amplamente concorridas, já que segundo a secretaria do curso, aproximadamente 150 pessoas tentam matricular-se a cada semestre.

 

Para tentar atender mais interessados, Marcelo pretende ampliar o número de vagas em 2020. "Estou fazendo algo que vejo que tem importância incrível na vida das pessoas que percebem o valor disso, mas outras estão ali só pelos créditos. É uma pena", relata.

 

A fim de acompanhar o processo pelo qual passam as pessoas que meditam, Marcelo está fazendo um estudo simples com seus alunos. No começo de cada aula, os praticantes escrevem como está o estado emocional deles e, ao terminar a prática, antes de sair, descrevem como se sentem. "Em geral, as pessoas saem bem melhor", conta. 

 

O professor recentemente escutou de um antigo aluno que "existe uma pessoa antes e uma pessoa depois dessa experiência".

 

Aos interessados, o professor dá a dica: "aposente por algumas horas, e frequentemente, os celulares. Cante, dance e silencie. Música, espaço e silêncio são práticas simples e salvadoras".

 

IOGA – Lídia Bezerra, professora de Cinesiologia Aplicada à Educação Física da UnB, dá aulas de ioga na Universidade. Para ela, entre os principais benefícios da meditação estão a disciplina, a limpeza e o controle das "flutuações da mente". A ansiedade, o estresse e a preocupação são exemplos dessas flutuações, que atordoam o indivíduo. Por isso, ela afirma que essa prática é tão importante: acalma os pensamentos e faz com que haja mais concentração para tomar decisões e refletir sobre vários aspectos.

 

Lídia conta que sempre tentou entender porque as pessoas que meditam “demonstram confiança, sabedoria nas tomadas de decisão e mais saúde física e mental". Então, começou a pesquisar e a praticar esse exercício, e foi quando descobriu que tudo o que ela buscava, desde criança, estava na meditação. “É uma fuga intensa para o paraíso que mora em minha alma", relata, de maneira poética.

 

Ela avalia que os universitários estão muito vulneráveis à vivência da ansiedade e do estresse, que com o decorrer do tempo, podem se transformar em quadros psicossomáticos mais graves, como depressão. Nesse sentido, crê que a meditação pode ser a solução.

 

"Acredito fortemente que a meditação contribua substancialmente para a melhora da saúde mental e física desses universitários. Melhor ainda se eles tiverem a possibilidade de praticar no campus onde estudam, pois é uma atividade que auxilia no equilíbrio mental", declara Lídia, que coordena o projeto Mover Juntos, no qual ministra aulas de ioga no Centro Olímpico da UnB.

 

Para quem não pode comparecer, ela orienta como fazer os exercícios por conta própria: "separe, pelo menos, 20 minutos para a prática diariamente. Sente-se num lugar tranquilo, onde se sinta bem – algumas pessoas preferem um lugar com natureza, outros num quarto silencioso, outros conseguem sentar-se em qualquer lugar com fones de ouvidos tocando uma música tranquila e suave. Respire fundo, gastando um maior tempo na expiração. Mantendo ombros relaxados, descanse as mãos sobre as coxas e apenas concentre-se no som da respiração. Esse início pode ter duração de cinco minutos, e a cada dia vai aumentando um pouquinho. Assim, já vai ajudar bastante", promete.

FAC sedia projeto voluntário e colaborativo de meditação. Foto: Agência Facto
FAC sedia projeto voluntário e colaborativo de meditação. Foto: Millena Campello/Agência Facto

 

MEDITACOM – Beatriz Roscoe sente no dia a dia os efeitos positivos da meditação. Aos 20 anos, tinha a vida muito corrida: fazia dois cursos de graduação, estagiava e ainda participava de uma empresa júnior. Havia muita obrigação, ansiedade e preocupação com o futuro – um quadro comum entre universitários.

 

Foi quando Beatriz descobriu essa atividade, que para ela é uma forma de trazer bem-estar e de melhorar o clima do local de trabalho também: "se as pessoas se sentem melhor, o clima do ambiente também melhora", acredita.

 

Com o passar do tempo, a universitária ajudou a criar o projeto MeditaCom junto à professora Ellis Regina Araújo. Na Faculdade de Comunicação (FAC), localizada no fim do Instituto de Ciências Central (ICC) Norte, as pessoas podem meditar todas as terças-feiras. Na vida corrida de Beatriz, esse era o único momento em que conseguia parar, relaxar e esvaziar a mente. Com a descoberta da meditação, ela diz que houve uma transformação: sua saúde melhorou, ela ficou mais tranquila e leve.

 

"Não aguentaria minha semana sem as meditações de terça-feira", admite. "Vale a pena meditar, cinco minutinhos por dia, que seja! Ajuda a ter mais foco, controlar a ansiedade, diminuir o stress".

 

A história do projeto que já mudou a vida da Beatriz e de tantas outras pessoas começou com o curso Divya Samaj Nirman (em português, Faça Algo Agora), oferecido por uma Organização Não Governamental de Brasília e frequentado pela professora Ellis Regina, que leciona na FAC. Foi quando ela entendeu como a meditação pode ajudar a entrar em contato consigo mesmo e a superar problemas de estresse. Inspirada, levou as técnicas para o ambiente universitário.

 

No começo, não havia recursos: “eu comprei tapetinhos, outro aluno doou alguma coisa e assim o projeto foi saindo do papel”. E também foi com a ajuda de outro estudante, do mesmo departamento, que conseguiram realizar a primeira sessão de meditação do MeditaCom em setembro de 2018, já com a participação de 40 pessoas.

 

"O objetivo é tornar a universidade um espaço de acolhimento e de bem-estar", explica a professora. Desse modo, a iniciativa reúne estudantes, técnicos e discentes que compartilham o interesse em reduzir o estresse, trazer calma para o corpo e para a mente, que, segundo Ellis, são alguns dos benefícios oferecidos pela prática do exercício. O projeto hoje conta com mais de 15 voluntários, todos alunos UnB, e está sempre aberto para qualquer pessoa que queira participar.

Arte: Gabriela Magalhães/Agência Facto e Marcelo Jatobá/Secom UnB

 

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