UnB participou de pesquisa ampla que alerta para os perigos da ocupação desordenada do ecossistema.

A floresta amazônica está perdendo a batalha contra os impactos das mudanças climáticas e desmatamento. O alerta vem de artigo publicado nesta quinta 18, na revista Nature, que divulga o resultado de dez anos de estudos sobre o ecossistema da região. A partir da análise da interação entre os sistemas biológicos e físicos com os sociais e econômicos o estudo mostrou que a capacidade natural de a floresta se regenerar não está dando conta de resistir a frequência das agressões.

“A floresta teria a capacidade de se recuperar de uma seca intensa como as que ocorreram em 2005 e 2010, mas não de duas em menos de cinco anos”, exemplifica a professora Mercedes Bustamante, do Departamento de Ecologia, uma das autoras do artigo. Ela explica que a soma de eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas com a destruição da floresta pela ação humana pode estar acarretando em transformações irreversíveis no ecossistema da floresta.

Uma delas é conversão do bioma de um grande sumidouro de gases de efeito estufa – absorvendo o carbono presente na atmosfera – para um emissor desses poluentes. “Isso já acontece em algumas áreas, especialmente onde há uma ocorrência grande de queimadas”, destaca Mercedes. A pesquisadora esclarece, por outro lado, que ainda é cedo para afirmar se essa tendência vai ou não se consolidar. “O balanço de quanto carbono a floresta perde e absorve é muito difícil de ser fechado, pois estamos falando de uma área muito ampla”.

ESPERANÇA - O cenário é preocupante, mas o artigo é otimista quanto a oportunidade que a crise traz para a construção de um modelo de desenvolvimento mais sustentável. “O Brasil está prestes a se tornar um dos poucos países a realizar a transição para uma grande potência econômica sem destruir a maioria de suas florestas”, afirmam os pesquisadores na conclusão do artigo. “No entanto, melhorias contínuas na capacidade científica e tecnológica e recursos humanos serão necessários na região amazônica”, ponderam em seguida. Para Mercedes, as mudanças passam primeiro pela atuação dos agentes públicos em estratégias mais sustentáveis para o desenvolvimento da região. “A função de trabalhos como esse é justamente o de orientar políticas públicas”, afirma.

O trabalho resume as principais conclusões do Programa de Grande Escala da Atmosfera-Biosfera (LBA), que reúne especialistas brasileiros e americanos. O projeto foi criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para ampliar o entendimento sobre os ecossistemas amazônicos integrando aspectos ambientais, sociais e econômicos. “Esse tipo de estudo é importante porque é realizado durante um tempo muito longo”, afirma Mercedes. “Isso permite colher dados mais consistentes sobre os vários fenômenos estudados”.

A contribuição da universidade para o projeto está principalmente na coleta e análise de dados relativos à região de cerrado da bacia amazônica. “Nós levamos o foco de como essas alterações estão acontecendo para esse bioma”, conta Mercedes. A UnB está no projeto desde 1998 participando com análise feitas majoritariamente no Laboratório de Ecologia de Ecossistemas. “Combinamos análises laboratoriais com pesquisas de campo”, afirma Mercedes. “Mais de uma geração de alunos conseguiram seus diplomas de mestrado e doutorado com trabalhos integrados ao programa”.

Leia aqui a integra do artigo públicado na Nature