Problemas como vagas ociosas existem desde a criação do campus. Para pesquisadora, planos de expansão devem ser revistos.

Três anos após sua criação, o primeiro campus da Universidade de Brasília fora do Plano Piloto ainda enfrenta problemas de concepção. A Faculdade UnB Planaltina (FUP) possui vagas ociosas e estudantes insatisfeitos com seus cursos. As conclusões são da pesquisadora Lívia Veleda, que estudou no mestrado a democratização do acesso ao ensino superior feito pela UnB, tomando a FUP como estudo de caso. Dos cerca de 900 estudantes da FUP, 70% residem em Planaltina e Sobradinho.


Primeiro, Lívia analisou o processo de criação do campus e as estratégias de democratização utilizadas pela universidade. Depois, traçou o perfil socioeconômico dos alunos matriculados nos dois cursos que existiam no campus quando iniciou a pesquisa, em 2006. Para isso, ela aplicou questionários a cerca de 300 estudantes de Planaltina e do Plano Piloto, em 2006 e 2008.

A pesquisadora, que realizou entrevistas com gestores e professores em maio e em junho de 2008 para compreender o processo de implementação da Faculdade UnB Planaltina, identificou três grandes alterações no projeto ao longo dos anos. “Houve alterações no planejamento em 2005, 2006 e 2008. Isso causou rupturas, prejudicando a execução do projeto”, disse.

O diretor da Faculdade, Marcelo Bizerril, lembra que a instituição nasceu sem planejamento de longo prazo. “É uma faculdade que ainda está em construção. Estamos trazendo professores, criando regras e conselhos. Os cursos crescem na medida em que formam profissionais”, afirma. 

CARREIRAS - O estudo de Lívia mostra que, durante o processo de criação do campus, não foi realizado nenhum levantamento sobre o perfil socioeconômico da comunidade. Os estudantes desconheciam as carreiras oferecidas e não se interessavam por elas. Além disso, eles não conseguiam atingir as notas mínimas exigidas no processo seletivo. No período estudado, a FUP só tinha graduação em Gestão do Agronegócio (bacharelado) e Ciências Naturais (licenciatura). Hoje, oferece mais três cursos: Gestão Ambiental (bacharelado), Ciências Naturais noturno e Educação no Campo (licenciatura).

Como são cursos novos, a procura às vezes é baixa, gerando vagas ociosas, principalmente nos cursos diurnos. Este ano, 23 vagas ficaram ociosas para Ciências Naturais diurno e quatro para Gestão de Agronegócio. “Isso oscila muito. O curso noturno de Gestão Ambiental, por exemplo, é lotado. Ciências Naturais noturno também fechou as vagas neste semestre”, diz o professor Marcelo Bizerril. Lívia sugere duas soluções para o problema: rever a escolha dos cursos de Planaltina ou utilizar estratégias de divulgação dos cursos na região.

Ela defende mais investimentos do governo para garantir a qualidade dos novos campi. “Se o aluno não é formado com qualidade, ele não consegue entrar no mercado de trabalho e, muito menos, contribuir para o desenvolvimento regional”, diz.

INSATISFAÇÃO – A criação do campus de Planaltina aumentou o número de estudantes negros, pobres e egressos da rede pública de ensino. Os desafios estão em tornar os cursos mais conhecidos e aumentar a satisfação dos estudantes com as carreiras. “Enquanto no Plano Piloto 80% dos universitários estão satisfeitos com os cursos que fazem, em Planaltina 50% estão insatisfeitos”, conta Lívia. A pesquisadora entrevistou universitários dos cursos de Agronomia, Administração, Biologia e Física no campus Darcy Ribeiro.

“Temos que batalhar para que os alunos passem a valorizar a carreira de professor”, argumenta o diretor da faculdade, lembrando que mais da metade dos cursos são de licenciatura. Marcelo Bizerril afirma que a FUB já faz parte da rede social da cidade, com os professores participando de conselhos locais e a FUB servindo de sede para discussões e debates. “Muitos alunos dizem que nunca pensaram em estudar na UnB tão perto de casa”, conta Marcelo.

 

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