Para o professor e pesquisador da UnB Luiz Vicente Gentil, o Brasil precisa investir em eletricidade verde, uma solução para as constantes ameaças de desabastecimento.

Municípios localizados em onze estados do País – todo o Nordeste, o Tocantins e o Pará, na Região Norte – tiveram mais uma vez queda no abastecimento de energia elétrica, no sábado, 22, à tarde. O fornecimento de energia foi interrompido entre as 15h50 e 16h58. Para o professor da Faculdade de Agronomia da UnB Luiz Vicente Gentil, a solução do problema pode estar numa das culturas mais antigas da economia agrícola nacional: a cana de açúcar.

De acordo com o pesquisador, o Brasil deixa de aproveitar, todos os anos, cerca de 265 milhões de toneladas de resíduos de biomassa, que ficam sem uso. Bem aproveitados, materiais como o bagaço e a palha da cana poderiam gerar de 7,7% a 20% de toda a demanda energética brasileira.

A conclusão faz parte do trabalho de pós-doutorado do pesquisador, realizado na Universidade Estadual de Campinas. O trabalho defende que a biomassa da cana inserida na rede pode valer até 20% (95 TW/h) de toda a demanda do Brasil, que equivale a 472 TW/h/ano. “Além disso, a eletricidade da cana substitui aquela gerada em termoelétricas de combustíveis fosseis, muito mais poluidoras. Outro benefício é a geração de empregos, de renda e desenvolvimento social nas fronteiras agrícolas, principalmente nos Estados de Mato Grosso, Goiás, Bahia, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais”, esclarece Gentil.

INVESTIMENTOS – De acordo com o professor, um dos principais entraves para o crescimento da produção e comercialização de energia elétrica gerada a partir da biomassa no País é a obrigação das usinas de cana de açúcar arcarem sozinhas com os custos da construção de linhas de transmissão, para estabelecer a ligação com os pontos de acesso à rede de distribuição elétrica.

Nessas condições, os gastos podem representar até 30% do total investido em um projeto de bioeletricidade. Luiz Vicente Gentil diz que as usinas chegam a gastar até US$ 150 mil/km de linha para exportar a energia excedente, o que inviabiliza o negócio. “A responsabilidade deveria ser do Estado, como indutor de investimento e mantenedor da infraestrutura, não dos produtores. A tarifa elétrica no Brasil é uma das mais altas do mundo – 45% das contas são imposto – e esse dinheiro deveria ser melhor aproveitado”, defende o estudioso.

Para Luiz Vicente Gentil, a energia verde – a energia extraída da biomassa – pode acabar definitivamente com a constante ameaça de desabastecimento de energia no Brasil. “Mas é necessário fazer algo rapidamente, pois caminhamos a passos largos para uma crise semelhante à de 2001”, alerta o professor, que explica: “A quantidade de energia nova gerada por ano não supre nem metade das necessidades do crescimento do Brasil. Ano passado, houve um crescimento de 1,3% de energia a mais, enquanto a necessidade do País foi de 3,6%”, analisa.

Desde 2009, aconteceram três interrupções no fornecimento de energia elétrica. Em 2009, 70 milhões de pessoas foram atingidas. Em fevereiro de 2011, mais 45 milhões de pessoas ficaram sem luz, devido uma falha do sistema. Já no último dia 22 de setembro, o problema atingiu onze estados e mais de 5 milhões de brasileiros. “É o Estado o grande indutor de desenvolvimento, mas está claro que combater a burocracia que asfixia a sociedade civil é o primeiro passo, pois não adianta gastar muito, é preciso gastar bem”, finaliza.