Estudo mostra como agilizar a identificação da bactéria que causa o cancro bacteriano, que prejudica plantações de uvas no Nordeste.

Uma nova técnica pode ajudar os agricultores brasileiros que plantam uvas. Pesquisa da Universidade de Brasília aponta um método de diagnóstico molecular que pode identificar a doença cancro bacteriano antes de os sintomas aparecerem. A bactéria causa rachaduras nos ramos das videiras, diminui o volume dos cachos, provoca manchas nas folhas e lesão nos frutos. Quanto mais rápida a doença for identificada, menos prejuízo terão os produtores da fruta.


A ideia do estudo era descobrir uma metodologia que fosse capaz de identificar a presença das bactérias em folhas e caules aparentemente sadios. Com isso, seria possível controlar a disseminação da doença. Os primeiros passos para a definição da metodologia estão na tese de doutorado da pesquisadora Loiselene Carvalho da Trindade, desenvolvida sob a orientação da professora do Instituto de Ciências Biológicas Marisa Ferreira. O trabalho recebeu apoio financeiro do CNPq e colaboração de pesquisadores da Embrapa Semi-árido.


Intitulada Diagnose molecular do cancro bacteriano da videira causado por Xanthomonas campestris pv. viticola, a tese defendida em 2007 foi a única produzida pela UnB a receber menção honrosa do Prêmio Capes 2008, cuja cerimônia de premiação será realizada em julho. “Fiquei muito feliz, porque foi uma luta concluir o doutorado. Já trabalhava e tive uma filha, mas consegui”, destaca.


Loiselene espera que outros pesquisadores continuem a estudar a bactéria e aprimorem os métodos de diagnose do cancro. A professora Marisa Ferreira conta que o projeto terá continuidade. A preocupação das pesquisadoras é que a doença, que hoje está controlada, se espalhe em outras plantações. A patologia só foi encontrada em videiras de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). “Esse é um importante pólo produtor de frutas, cultivadas por conta do solo favorável e a tecnologia de irrigação”, destaca Marisa.


Vale ressaltar que as uvas cultivadas nessa região são destinadas ao consumo in natura. Boa parte da produção é exportada. De acordo com a pesquisa, 155.785 toneladas de uvas foram produzidas por Pernambuco e 89.738 toneladas pela Bahia em 2006. “Não há risco para o consumo, porque o patógeno ataca a planta, não causa problemas ao ser humano. Mas prejudica o trabalho dos produtores”, destaca Marisa.


METODOLOGIA –
Loiselene esteve em Petrolina para analisar amostras das folhas doentes e das aparentemente sadias. Com o material em mãos, ela o submeteu à técnica PCR (Reação da Polimerase em Cadeia). Se a bactéria estiver lá, é detectada por meio da amplificação de seu DNA, seguida de eletroforese em gel.


Quando a patologia é identificada na planta, precisa ser isolada da plantação e exterminada. A doença apareceu no Brasil pela primeira vez em 1998. Antes, só havia sido registrada na Índia, em 1972. “Não se sabe muito sobre ela. Imagina-se que a patologia tenha sido introduzida no país via material propagativo contaminado”, conta Marisa.


A orientadora destaca a importância de promover estudos na área. “Essa é uma bactéria pouco estudada. Sabemos que o cancro é causado por uma bactéria do gênero Xanthomonas, mas não estamos certos de que é a espécie campestris”, afirma. “Foi difícil comparar nosso trabalho, porque não havia outros. Ainda há muito o que ser explorado”, defende.