HUB possui programa de atendimento ao obeso e é o único no DF a realizar gratuitamente cirurgia que reduz estômago.

As condições de vida da sociedade moderna ? que unem a alimentação inadequada dos fast-foods ao sedentarismo - aumentam cada vez mais a quantidade de pessoas gordas no mundo. O Brasil já é o sexto país em número de obesos, com cerca de um milhão de pessoas vítimas dessa doença que pode até levar à morte. A cirurgia para redução do estômago é o recurso extremo, quando todas as alternativas falharam no combate ao problema. O Hospital Universitário de Brasília (HUB) é o único no Distrito Federal a realizar a cirurgia bariátrica, como é chamada, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A operação, credenciada ao SUS desde 2002, faz parte do Programa de Assistência e Pesquisa em Obesidade (Passo), que oferece acompanhamento a pessoas com excesso de peso de todas as faixas etárias.

Para se submeter à cirurgia, que possui risco de vida menor que 1%, não basta apenas querer se livrar das gordurinhas para estar em forma no verão. O procedimento é realmente adotado em último caso e sempre para quem está muito acima do peso. Antes da autorização médica, o paciente precisa tentar todas as formas de emagrecimento ? como dietas e atividades físicas ? e passar por uma série de avaliações. Além disso, é preciso ter Índice de Massa Corporal (IMC) ? quantidade de peso por metro quadrado ? maior que 40 ou entre 35 e 40 e estar correndo risco de vida pela obesidade ou por doenças afins, como diabetes e hipertensão.


TERAPIA PERSONALIZADA – O tratamento começa meses antes da cirurgia. Primeiramente, o endocrinologista procura descobrir causas biológicas, hereditárias ou psicológicas da doença. Caso encontre, na maioria das vezes, não é preciso a intervenção cirúrgica e o tratamento é feito por medicamentos controladores de apetite. Se o paciente possuir os pré-requisitos e for obeso há pelo menos cinco anos, é então encaminhado ao nutricionista, que cria uma dieta personalizada, baseada nas preferências e condições socioeconômicas do doente. A idéia principal dessa dieta não é o emagrecimento imediato, mas a mudança do relacionamento do obeso com a comida ? mastigação, rotina alimentar e velocidade para comer.


A Divisão de Psicologia toma a maior parte do tempo do tratamento. Durante pelo menos quatro meses, o doente conhece detalhes sobre a obesidade e as conseqüências da cirurgia, além de receber acompanhamento para melhorar a auto-estima. A professora Suely Sales Guimarães, coordenadora da equipe de Psicologia do Passo, explica que o paciente precisa adaptar a mente ao novo corpo, suas restrições, e à nova realidade. ?A cirurgia não é uma mágica e não há como retirar a vontade de comer do paciente. Se não houver esse tipo de preocupação, a pessoa pode continuar gorda, mesmo tendo passado pela cirurgia com sucesso?, comenta. Para Suely, já que a obesidade é uma doença com várias causas, a equipe responsável pelo tratamento também precisa ser formada por profissionais de todas as áreas envolvidas na questão. Até julho de 2004, o hospital conseguiu realizar apenas oito cirurgias. Isso porque, por ser uma cirurgia clínica como outra qualquer, é necessário que haja disponibilidade de espaço e pessoal. Entretanto, o programa pretende realizar duas cirurgias por mês. Aproximadamente 200 pessoas estão na espera por uma oportunidade.

 

Obesidade

A obesidade consiste em um armazenamento desnecessário de energia nas células adiposas, que compõem o tecido adiposo. Embora a gordura corporal desempenhe funções importantes no corpo humano, como fonte e reserva de energia, proteção de órgãos vitais, isolamento térmico do organismo e carregador de vitaminas, seu excesso pode causar sérios distúrbios à saúde e elevar os riscos de enfermidades. Há várias causas para a obesidade. Podem ser endócrinas, biológicas, hereditárias, ambientais, psicológicas. A chamada obesidade mórbida é um elevado grau de obesidade que aumenta o risco de adquirir problemas de saúde relacionados ao excesso de peso, como hipertensão arterial, diabetes, problemas articulares, colesterol elevado e infarto.

 

Cirurgia bariátrica

A cirurgia bariátrica surgiu na década de 1950, nos Estados Unidos, e desde então suas técnicas vêm sendo aperfeiçoadas. A operação reduz parte do estômago e/ou do intestino e cria um pequeno reservatório gástrico com anel. O novo estômago passa a comportar um volume que varia de 20 a 30 ml. Com o passar do tempo, essa capacidade pode se estender até aproximadamente 150 ml. Com isso, o paciente deve aprender a mastigar bem o alimento e ingeri-lo lentamente. Se comer rapidamente ou engolir pedaços grandes, o alimento não passa pelo anel e o doente pode vomitar. Além disso, se houver excesso dos alimentos calóricos líquidos ou doces, a pessoa pode sentir mal-estar, ter tonturas e diarréia. Este quadro é chamado Síndrome de Dumping, causado pela passagem rápida de alimento rico em carboidratos para o intestino. Por outro lado, alguns sintomas de diabetes e hipertensão arterial podem desaparecer após um mês da realização da cirurgia. O tempo de recuperação depende de cada organismo. Em geral, o paciente já caminha no dia seguinte à operação e, após 90 dias, está apto a retomar todas as atividades.