Hospital Universitário de Brasília cederá dez estimuladores epidurais, dispositivos que atuam na área superficial do cérebro relacionada ao humor, para serem implantados em pacientes

Da UnB Agência

 

 

A combinação de medicamentos prescritos com sessões de psicoterapia é a estratégia mais comum para o tratamento de quadros depressivos. Entretanto, em alguns casos, pacientes não respondem adequadamente à terapia convencional, o que acarreta na recorrência de episódios do transtorno psicológico. Pesquisadores da Universidade de Brasília buscam voluntários para comprovar a efetividade de novas alternativas para o tratamento da depressão maior.

 

A iniciativa propõe testes com uma técnica ainda recente que está em fase de experimentação: a estimulação epidural. Trata-se do implante de um dispositivo, por meio de procedimento minimamente invasivo, entre o crânio e o cérebro, capaz de estimular eletricamente áreas superficiais do órgão relacionadas à regulação do humor. Dez estimuladores serão disponibilizados pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) para a realização da pesquisa, que procura voluntários para participação.

 

“A depressão é uma doença grave e potencialmente fatal. Vem aumentando e já é uma das principais causas de morbidade no mundo”, alerta Monique Scalco, psiquiatra e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas. Ela desenvolve a pesquisa, com orientação do professor da Faculdade de Medicina Rivadavio Amorim, e está envolvida com uma equipe de profissionais do Ambulatório de Transtorno de Humor do HUB. Integram o grupo, o neurocirurgião Tiago Freitas e os psiquiatras Maria Cecília Freitas e Fabiano Gomes.

 

“Nós iremos estimular uma área superficial do cérebro, chamada córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo, a qual a maioria dos estudos aponta como hipofuncionante na depressão. A nossa ideia é que, estimulando essa região, ela volte a funcionar adequadamente. Está ligada ao processamento afetivo e à percepção das emoções”, explica Scalco.

 

A técnica já é utilizada no tratamento de Parkinson. Experimentos focados na depressão foram realizados somente três vezes no mundo inteiro, mas já apontam resultados positivos em pessoas que se submeteram à técnica, em comparação aos métodos tradicionais. O primeiro estudo, realizado em 2008, alcançou, em um período de quatro meses, 23% de melhora dos sintomas depressivos em pacientes que colocaram o implante. Outro, realizado em 2010, verificou 60% de remissão sete meses após a realização do procedimento cirúrgico.

 

Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

Segundo a pesquisadora, além de a estimulação ser imperceptível, os riscos da cirurgia para os pacientes são bem menores em relação a outros tratamentos mais invasivos de neuroestimulação, como a estimulação cerebral profunda. Além disso, é menos agressivo que técnicas como a eletroconvulsoterapia, que consiste na indução de crises convulsivas por meio da descarga de correntes elétricas no cérebro, ainda que essa seja segura e, de certo, modo eficaz.

 

PARA PARTICIPAR – Os voluntários que se candidatarem à pesquisa passarão por uma triagem na qual serão identificados aqueles que se encaixam no perfil do estudo. Após a seleção, eles serão previamente avaliados pela equipe médica, realizarão exames e serão acompanhados periodicamente após a cirurgia.

 

Os candidatos devem atender aos seguintes requisitos: ter idade entre 18 e 65 anos, estar em tratamento para transtorno depressivo maior e ter utilizado ao menos quatro antidepressivos diferentes sem resposta efetiva. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone 3107-1978 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

RECORRÊNCIA – Pesquisas já demonstram que 30% dos indivíduos afetados pela depressão não respondem adequadamente ao tratamento com antidepressivos. Desse número, 50% irão apresentar novos episódios depressivos após seis a 12 meses. Em casos mais intensos, em que o paciente chega ao quarto ciclo de tratamento com medicação, apenas 13% alcançam a remissão, ou seja, o abrandamento dos sintomas. Isso demonstra que ainda existem muitos casos em que os fármacos não são tão eficazes contra o transtorno.

 

“Fora o problema da recaída, há algumas crises, que chamamos de 'episódios depressivos', que são muito graves. A pessoa fica completamente sem condições de realizar qualquer atividade, mesmo em cuidado pessoal, sem condições de trabalhar, de se relacionar com outras pessoas, muitas vezes até precisa ser internada”, explica o psiquiatra Fabiano Gomes. E completa: “É importante desenvolvermos muitas alternativas de tratamento, porque a doença é heterogênea. Às vezes o paciente responde ao medicamento agora e depois não responde mais”.

 

CAUSAS – Cinco por cento da população mundial é atingida atualmente pela depressão, o que corresponde a cerca de 350 milhões de pessoas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Ainda são desconhecidas as causas concretas do transtorno. No entanto, evidências científicas apontam para alguns fatores que poderiam estar relacionados com o quadro, como a predisposição genética e a baixa taxa de neurotransmissores, como a serotonina e noradrenalina, responsáveis pela comunicação dos impulsos nervosos com neurônios da área do cérebro que responde às emoções.

Arte: Igor Outeiral/Secom UnB