Cerca de 30 pesquisadores de seis programas de pós-graduação da UnB irão mapear o vírus e descobrir diferentes aspectos de seu funcionamento

Arquivo pessoal

 

A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV2) representa novos desafios para a comunidade científica. O novo patógeno, que tem alta capacidade de multiplicação e transmissibilidade elevada, fez com que muitas áreas do conhecimento se unissem na tentativa de descobrir mais informações sobre ele.

 

Assim, cerca de 30 pesquisadores de seis programas de pós-graduação da UnB (Patologia Molecular, Biologia Molecular, Ecologia, Informática, Química e Biologia Microbiana) decidiram unir esforços com uma mesma finalidade: estudar, simultaneamente, diferentes aspectos do novo coronavírus. Um dos objetivos do grupo é analisar a sua diversidade genômica, além de encontrar informações sobre outros vírus que interagem com o corpo humano, como o zika.

 

O projeto está sob a coordenação do professor virologista Bergmann Ribeiro, do Instituto de Ciências Biológicas (IB), um dos primeiros cientistas do Distrito Federal a sequenciar o genoma do SARS-CoV2.

 

A pesquisa foi aprovada no Programa Estratégico Emergencial de Combate a Surtos, Endemias, Epidemias e Pandemias da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no Edital de Seleção Emergencial II Capes – Fármacos e Imunologia. Vale ressaltar que três programas de pós-graduação participantes do projeto (Biologia Molecular, Patologia Molecular e Ecologia) são considerados de excelência (nota 6) pela Capes.

 

De acordo com o professor Bergmann, a relevância do trabalho está em estudar o vírus de várias maneiras diferentes para tentar montar um quebra-cabeça de informações e assim conseguir controlar a covid-19. “Nosso grupo é formado por pessoas que trabalham em áreas que podem acrescentar dados sobre essa nova doença e sobre o vírus”, explica o docente.

 

MODIFICAÇÃO – Os aspectos mais importantes do novo coronavírus são sua diversidade genética e sua capacidade de modificação. Nesta etapa do projeto, a equipe está analisando os vírus que estão circulando em Brasília. A ideia dos pesquisadores é que, antes da próxima etapa, centenas de vírus já estejam sequenciados e catalogados. A partir disso, será possível acompanhar o genoma do SARS-CoV2 e verificar possíveis modificações que estejam surgindo da interação com o ser humano.

Pesquisadores de seis programas de pós-graduação com um mesmo objetivo: levantar mais informações sobre o novo coronavírus. Foto: Arquivo pessoal

 

O professor Bergmann lembra que o sequenciamento de uma nova cepa do zika vírus, que está em circulação no Brasil, permitiu entender se a modificação pode ser um problema para o desenvolvimento de uma vacina contra a doença. Isso porque as modificações podem ocorrer em regiões do genoma que interagem com o nosso sistema imunológico, anulando assim possíveis defesas produzidas pelo organismo. “Dependendo da modificação, o sistema imunológico não reconhece o vírus. É o que acontece com o HIV, que está sempre mudando, sendo também um vírus de RNA, como o novo coronavírus”, completa o pesquisador.

 

O professor da UnB explica que, quando o vírus é mais estável, as vacinas funcionam na maior parte dos casos. Com vírus que se modificam muito rapidamente, as vacinas podem não funcionar. Isso reforça que, tão importante quanto reconhecer a origem do vírus e sua interação com o corpo humano, é a análise genômica, a fim de saber toda a sua evolução.

 

FINANCIAMENTO – A aprovação do projeto pela Capes viabilizou a participação de bolsistas de doutorado e pós-doutorado no avanço da pesquisa. As bolsas irão permitir uma maior dedicação dos pesquisadores ao projeto.

 

Alunos da pós-graduação em Informática irão desenvolver ferramentas computacionais de análise e comparação dos genomas dos vírus. Essa equipe será essencial na construção e no desenvolvimento de programas capazes de realizar a análise dos ácidos nucleicos dos vírus sequenciados.

Professor virologista Bergmann Ribeiro, do Instituto de Ciências Biológicas (IB), coordena a pesquisa. Foto: Arquivo pessoal

 

Além do sequenciamento do genoma, o projeto propõe ainda descobrir fármacos para inibir a replicação do vírus. “Essas drogas podem ser derivadas de extratos de plantas ou bancos de drogas, que servirão para fazermos análise computacional e saber se são capazes de interagir e inibir as proteínas de ação, já conhecidas dos coronavírus”, afirma Bergmann, completando que a pesquisa usa atualmente partículas desativadas do vírus.

 

O professor explica que, caso seja identificada alguma interação entre as drogas selecionadas e a proteína do vírus, então a pesquisa poderá ser ampliada para outras regiões de São Paulo e Rio de Janeiro, pois nessas localidades existem laboratórios com biossegurança adequada para a manipulação do vírus em cultura de células (e assim não precisariam usar os vírus desativados).

 

RELEVÂNCIA – As enzimas que estão no foco dos pesquisadores neste momento são as envolvidas no processo de replicação do vírus. Professores dos Institutos de Química e de Biologia da UnB estão envolvidos neste ponto do projeto para encontrar e mapear moléculas inibidoras de proteínas do SARS-CoV2.

 

O grupo de Imunologia participa com o desenvolvimento de anticorpos monoclonais, que se ligam ao coronavírus, abrindo portas para o desenvolvimento de um possível tratamento. Desta forma, pode ser viável usar esses anticorpos em vez de selecionar soro de pacientes já infectados, por exemplo.

 

Outro fator que torna a pesquisa relevante se deve ao fato de o Brasil possuir uma fauna bastante diversa, o que possibilita a esse patógeno encontrar diversos tipos de reservatórios de vírus (nos animais) e isso se tornar um problema em escala maior. A equipe de Ecologia irá fazer o mapeamento para identificar potenciais reservatórios no Brasil.

 

“O Brasil é um dos países com o maior número de espécies de morcegos. O grupo da Ecologia vai participar fazendo uma detecção desses possíveis vírus em morcegos e também em insetos hematófagos, que podem estar relacionados também com a transferência de transmissão”, conclui o professor Bergmann.

 

O projeto desponta como um dos mais importantes para a análise e mapeamento de vírus no Brasil, sendo relevante, sobretudo, por cobrir diversas áreas simultaneamente, catalogando muitos aspectos desses patógenos.

 

Para a decana de pós-graduação da UnB, Adalene Moreira, o desenvolvimento de pesquisas na UnB mostram uma rápida resposta da Universidade para as demandas sociais. Segundo ela, isso é reflexo da qualidade dos recursos humanos presentes na instituição, além dos investimentos recebidos em pesquisa e extensão ao longo dos últimos anos. “Hoje, o que apresentamos para a sociedade no enfrentamento à covid-19 é uma continuidade de ações que foram consolidadas ao longo do tempo, que mostra também o alto grau de excelência do corpo docente e discente da Universidade de Brasília”, conclui a decana.

 

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