Realizada em parceria com produtores de soja e milho do sudoeste goiano, iniciativa reúne dez instituições de ensino e pesquisa

Rogério Vian/Divulgação

 

Com o aumento da exigência ambiental de consumidores e mercados importadores de commodities, agricultores têm buscado na ciência alternativas para a substituição de procedimentos correntes da agricultura convencional por técnicas da agricultura regenerativa. Tais práticas aplicadas em larga escala trazem, segundo o professor do Departamento de Fitopatologia do Instituto de Ciências Biológicas (FIT/IB/UnB) Juvenil Cares, benefícios ambientais, como reestruturação do solo, preservação da biodiversidade funcional do ambiente e produção com menos agrotóxicos.

Para avaliar a eficácia da técnica, um grupo de mais de 30 pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa monitoram, há um ano, cerca de 1.600 hectares de área distribuída em 12 propriedades rurais do sudoeste goiano que já vêm empregando esse modelo mais sustentável nas safras de soja e milho. Produção de soja em grandes áreas em sucessão à de milho e uso de bioinsumos para promover o controle de pragas foram algumas das medidas adotadas por esses produtores.

A pesquisa faz parte do projeto Regenera Cerrado, iniciado em 2022, em que aspectos como qualidade do solo e métodos de controle biológico de pragas são analisados com o objetivo de, futuramente, divulgar os resultados das técnicas regenerativas utilizadas.

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Professor Juvenil Cares se dedica à nematologia há 36 anos. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Entre as equipes participantes do projeto está a de microbiologia dos solos, coordenada pela professora da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Fátima Moreira. O professor do Departamento de Fitopatologia da UnB Juvenil Cares é um dos integrantes da equipe.

"Minha participação consiste em avaliar o impacto das práticas da agricultura regenerativa sobre a comunidade de nematoides presentes no solo, tanto sobre espécies que causam doenças em plantas, como as que são benéficas ao ambiente", conta.

Vermes microscópicos, nematoides são considerados os animais mais abundantes do planeta. Entre eles estão várias pragas que parasitam inúmeras variedades cultivadas na agricultura brasileira. "Os nematoides fitopatogênicos parasitam hortaliças, frutíferas e grandes culturas no Brasil, causando perdas significativas em várias regiões, sobretudo em culturas anuais de grandes extensões, especialmente a soja e o milho", diz Cares.

As perdas na agricultura causadas por esses organismos chegam a R$ 750 bilhões por ano, segundo o Instituto Fórum do Futuro. No Brasil, de acordo com estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia, o prejuízo anual é de aproximadamente R$ 55 bilhões.

As práticas da agricultura regenerativa, como adição de matéria orgânica no solo e manutenção da cobertura vegetal, promovem o aumento da diversidade de microorganismos, aumentando o número de predadores de patógenos. Essas medidas, combinadas à rotação de culturas e ao uso de variedades de plantas mais resistentes, ajudam no controle dos nematoides patogênicos.

“É possível promover um ambiente propício aos nematoides benéficos, primeiramente evitando aplicação de pesticidas sintéticos, principalmente daqueles com amplo espectro de ação que acabam eliminando, não somente pragas e patógenos alvo, mas também os próprios organismos benéficos”, explica Cares.

Animais invertebrados de corpo cilíndrico alongado – exceto as fêmeas de nematoides como os causadores de galhas (Meloidogyne spp.), formadores de cisto (Heterodera spp., Globodera spp.) que apresentam o corpo arredondado – os nematoides são fiéis bioindicadores da saúde do solo. Imagem: J. Cares/Regenera Cerrado

 

O professor pontua que os estudos sobre nematoides ainda estão em fase de análise no âmbito do projeto, mas adianta que, nas amostras de solo provenientes das culturas de soja e milho, foram encontrados os dois tipos de nematoides, os benéficos e os patogênicos. A maior diversidade tendo sido encontrada na cultura do milho.

"A soja e o milho dividem áreas de plantio, compartilhando também algumas espécies de nematoides de importância agrícola, como o nematoide das galhas e o nematoide causador de lesões radiculares", cita.

O pesquisador diz que a produção de soja vem sendo severamente afetada pelo nematoide de cisto da soja e, em menor grau, pelo nematoide reniforme, além do nematoide de lesões e do nematoide parasita de parte aérea, que causa a doença conhecida como soja-louca 2.

Além de pesquisa e extensão, o projeto inclui atividades de treinamento de recursos humanos nos níveis de graduação, pós-graduação e estágio pós-doutoral. O professor Pedro Henrique Togni do Departamento de Ecologia (ECL/IB/UnB) também participa da iniciativa na área de Entomologia, que estuda insetos.

 

* Com informações do Regenera Cerrado

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