Técnica inédita faz parte de guia prático da ONU para combater crimes ambientais

Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

O Instituto de Química da UnB e o Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro (LPF/SFB) desenvolvem um método que usa um equipamento semelhante a uma pistola portátil – Espectrômetro NIRS – para ajudar os fiscais ambientais do Ibama a identificarem, in loco e em poucos segundos, diferentes tipos de madeira. Em fase de testes, o NIRS deve começar a ser usado nos próximos dois anos, acreditam os pesquisadores.


“Com um treinamento básico, qualquer agente conseguirá usar o equipamento para checar se a madeira transportada corresponde realmente àquela declarada na documentação”, afirma o professor de Química da UnB e integrante do grupo de pesquisa Jez Willian Braga. Ele explica que, devido à semelhança entre várias espécies, a identificação da madeira requer, muitas vezes, a presença de um anatomista experiente ou o envio de amostras para análise em laboratório.


“Enquanto países como Estados Unidos, Canadá e Finlândia possuem cerca de cem espécies produtoras de madeira, somente na Amazônia brasileira estima-se que existam mais de dez mil. Essa biodiversidade torna a identificação muito mais difícil”, ressalta o biólogo e também membro do grupo de pesquisa Alexandre Gontijo. A inspeção é feita hoje com base na observação do "jeitão da madeira", sua cor e textura. Por isso, as espécies podem ser facilmente confundidas por fiscais com pouca experiência.

 
MOGNO – Por enquanto, o mogno (Swietenia macrophylla) é o foco do grupo. Mas a ideia é expandir o banco de dados do NIRS e torná-lo capaz de identificar várias outras espécies de madeira, em especial aquelas em risco de extinção. Muito explorado nas décadas de 80 e 90 por sua beleza e alto valor comercial, o mogno entrou para a lista de espécies ameaçadas de extinção da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites) em 2002. A madeira só pode ser explorada com autorização do Ibama e de acordo com planos de manejo sustentáveis.


Até pouco tempo atrás, a pesquisa focava na identificação do mogno para distingui-lo de espécies semelhantes, como andiroba, cedro, jatobá e curupixá. Recentemente, o grupo coletou amostras em diversas regiões do Brasil, Bolívia, Guatemala, México e Peru. Além de identificar a espécie, o NIRS também deve conseguir indicar o local de origem da madeira. "É o que apontam os resultados iniciais", diz o professor Jez.

 

Tela do espectrômetro NIRS utilizado pelo grupo de pesquisa. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

NIRS – A nova tecnologia une o conhecimento sobre espectroscopia no infravermelho do Laboratório de Produtos Florestais do Serviço Florestal Brasileiro e a experiência de anatomistas como Vera Coradin, que já treinou vários fiscais do Ibama. “Existem diferentes métodos de identificação da madeira e todos dependem da classificação precisa feita por um botânico taxonomista”, afirma Vera, ao lembrar que mesmo a identificação feita pela análise do DNA da planta requer conhecimento vasto e preciso das espécies de árvores existentes.

 

No Brasil, o método anatômico é usado desde a década de 1930. Devido à grande semelhança entre as madeiras, pode acontecer de o anatomista conseguir identificar o gênero da planta e não chegar à espécie. "A identificação da espécie exige grande experiência do anatomista", destaca Vera. E é aí que entra o NIRS – com o uso adequado da quimiometria, o infravermelho pode alcançar um nível maior de precisão.

 

A pesquisadora destaca o potencial do novo método que começou a ser desenvolvido em 2004 no Laboratório de Produtos Florestais sob liderança da espectroscopista Tereza Pastore, coordenadora do projeto. Em 2016, ele foi incluído no guia de boas práticas para identificação de madeira para fins forenses do Programa Global de Combate a Crimes contra a Vida Selvagem e Florestas, da ONU.

 

"O comércio ilegal começa com a identificação errada da madeira", observa Vera. "O NIRS é uma tecnologia nacional, pioneira e promissora. É uma honra enorme para o Brasil desenvolvê-la", afirma.

Equipe do projeto (esq. p/ direita): Alexandre Gontijo, Filipe Snel, Nayara Guimarães, Liz Soares, Diego Carvalho, Julia Oliveira, Vera Coradin, Jez Willian Braga e Tereza Pastore. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

MULTIDISCIPLINARIDADE – Realizada por uma equipe de biólogos, químicos e engenheiros florestais, entre outros especialistas, a pesquisa contou com o apoio do Programa ITTO-CITES, CNPq, INCTBio e FAPDF. “O projeto NIRS formou dois mestres em Química e uma dezena de estudantes de Iniciação Científica (IC). Atualmente, envolve uma estudante de mestrado e três projetos de IC”, diz o professor Jez.

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