Um grupo multinacional de cientistas, após vários anos de trabalho conjunto na Iniciativa Internacional do Genoma do Amendoim (IPGI), concluiu com sucesso o sequenciamento dos genomas de parentes silvestres da leguminosa.

 

Professor David Bertioli, do Instituto de Biologia. Foto: Reprodução

A UnB participa da pesquisa por intermédio do professor David Bertioli, do Instituto de Biologia (IB).


Colaboram com Bertioli uma dupla de ex-alunos do IB, Fernando Campos e Ediene Galdino de Gouvêa, e uma doutoranda em Biologia Molecular, Bruna Vidigal.  Campos é responsável pela descoberta do mais importante DNA repetitivo do amendoim, enquanto Ediene criou os mapas genéticos que auxiliam na ancoragem dos sequenciamentos.  Coube à Bruna a análise da estrutura genômica do componente repetitivo do DNA, o que significa mais da metade do seu total.

O amendoim cultivado é o resultado de um cruzamento natural entre duas espécies silvestres, Arachis duranensis e Arachis ipaënsis, ocorrido possivelmente no norte da Argentina entre seis mil a dez mil anos atrás. Como eram duas espécies diferentes, o amendoim atual é um tetraploide, ou seja, a espécie possui dois genomas distintos que são designados subgenomas A e B. As duas espécies são semelhantes e foram diferenciadas há cerca de três milhões de anos, considerado pouco tempo, em termos evolutivos, para os cientistas.

 

Os dois subgenomas do amendoim são evidenciados pelas cores

O genoma do amendoim envolve três bilhões de pares de base de DNA, volume equivalente ao genoma humano. “Nenhum laboratório do mundo reúne todas as capacidades necessárias para a produção e análise dos dados, devido ao volume de informações”, explicou o professor David Bertioli, doutor em biologia molecular pela Universidade de Oxford (Reino Unido) e atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade da Georgia (EUA).  Bertioli destaca a qualidade da integração dos pesquisadores do IPGI, exemplificando com a decisão do grupo de tornar de domínio públicos os dados da pesquisa.  “Foi uma fácil decisão”, explicou, “pois o grupo é muito coeso”. As sequências genômicas e informações adicionais estão disponíveis aqui.


Além do Brasil, a Iniciativa Internacional do Genoma do Amendoim reúne cientistas dos Estados Unidos, China, Índia e Israel com os objetivos de sequenciar o genoma do amendoim, caracterizar a variação genética e fenotípica do amendoim cultivado e seus parentes silvestres e desenvolver ferramentas genômicas para o melhoramento do amendoim. O sequenciamento inicial foi realizado pelo BGI, Shenzen, China. A montagem foi feita no BGI, USDA- ARS, Ames - IA e UC Davis, CA. O projeto foi viabilizado pelo financiamento fornecido pela indústria de amendoim através da Peanut Foundation, pela MARS Inc. e três Academias chinesas (Henan Academia de Ciências Agrárias, da Academia Chinesa de Ciências Agrárias e Shandong Academia de Ciências). A lista completa das instituições envolvidas com o projeto e as outras fontes de financiamento está disponível em www.peanutbioscience.com.

AMENDOIM – O amendoim (Arachis hypogaea) é uma cultura importante comercial e nutricionalmente. No mundo, cerca de 24 milhões de hectares são cultivados com amendoim a cada ano, produzindo cerca de 40 milhões de toneladas. Além de sua importância na economia de diversos países, essa leguminosa é crucial para as dietas e um meio de subsistência de milhões de pequenos agricultores na Ásia e na África. Além de ser uma fonte rica de óleo (44-55 por cento), proteínas (20-50 por cento) e carboidratos (10-20 por cento), sementes de amendoim são uma fonte nutricional importante de niacina, ácido fólico, cálcio, fósforo, magnésio, zinco, ferro, riboflavina, tiamina e vitamina E.