Novo sistema desenvolvido pelo geólogo Alexandre de Amorim estabelece padrão para bancos de dados usados na gestão de bacias hidrográficas.

Tese de doutorado defendida na Universidade de Brasília no último mês aprimora sistema de codificação de bacias hidrográficas usado para identificar rios brasileiros. Nesse sistema, chamado de ottocodificação, cada rio recebe um código específico que o diferencia dos demais. As melhorias propostas pelo geólogo e especialista em geoprocessamento da Agência Nacional de Águas (ANA), Alexandre de Amorim, permitem a criação de códigos para situações específicas que não são contempladas atualmente, como rios que se bifurcam e se encontram novamente ou mais de dois rios que se encontram no mesmo ponto.


A ottocodificação é utilizada por todas as entidades que participam do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIGREH) – que inclue a própria ANA, outras agências responsáveis pelo gerenciamento de águas de rios, conselhos estaduais de recursos hídricos, consórcios intermunicipais e comitês de bacias hidrográficas e órgãos responsáveis pela gestão de recursos hídricos.

Os códigos têm para os gestores a mesma importância que o CPF tem para a Receita Federal. Assim como o cadastro da Receita Federal possibilita identificar um cidadão brasileiro e resgatar dados sobre ele, a ottocodificação permite identificar um rio único. “A diferença é que na ottocodificação é possível determinar se um rio está mais acima ou mais abaixo de outro rio apenas olhando para o código, sem a necessidade de um sistema de informação mais elaborado”, explica a orientadora da tese, Adalene Silva. “Só pelo código é possível saber dados sobre o rio, a qual bacia ele está vinculado e a distribuição de seus afluentes”.


Além da orientadora, participaram da banca examinadora que aprovou a pesquisa de Alexandre de Amorim a professora Noris Diniz e o professor Henrique Roig, ambos do Instituto de Geociências da UnB, além dos professores Fernando Pruski, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Clodoveu Davis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).


REPRESENTAÇÃO –
 O trabalho de Alexandre vai ajudar o desenvolvimento dos sistemas de informações sobre Recursos Hídricos pelos gestores que atuam na área. “O aprimoramento do sistema é importante porque mantém todos os rios originais, não havendo necessidade de simplificação da rede de drenagem, como acontece na proposta original”, afirma. “Algumas vezes um rio que se divide em vários canais, por exemplo, é representado como um só”. Segundo o pesquisador, uma das utilidades da codificação será dar apoio às decisões de como recursos governamentais serão divididos entre as bacias hidrográficas do país.


Fernando Pruski, que é coordenador do Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da UFV, explica que “o sistema atual de codificação de bacias hidrográficas não tem uma solução padronizada para casos como o da Ilha do Bananal”, que fica entre rios que se bifurcam e depois voltam a se unir. A ampliação feita no trabalho de Alexandre contempla lacunas como essa.”


O pesquisador desenvolveu ainda um modelo em banco de dados geográficos que uniformiza a representação em mapas dos rios, bacias hidrográficas, nascentes, represas, entre outros elementos que fazem parte da hidrografia – até o momento cada sistema usa um padrão diferente. O modelo vai funcionar como uma referência única para os gestores implementarem sistemas de informação sobre recursos hídricos usando banco de dados geográficos.


CÓDIGO ABERTO -
 Para facilitar o acesso à novidade, Alexandre criou um complemento que atualiza o software livre PostgreSQL/PostGIS, usado para organizar dados geográficos. O pgHydro, como é chamado o complemento, permite que o softwaregerencie e processe dados relacionados à hidrografia. “Ele vai facilitar a implementação do modelo, a ottocodificação e a sua utilização em qualquer área do conhecimento que necessite de informações sobre a hidrografia brasileira”, afirma Adalene. “Ele poderia ser usado, por exemplo, para fundamentar uma decisão política para exploração de recursos minerais.” A professora explica que, depois de concluir a modelagem e a inserção dos dados hidrográficos no banco de dados PostgreSQL/PostGIS, as informações podem ser visualizadas por meio de mapas, planilhas ou gráficos em qualquer software de Sistema de Informações Geográficas ou mesmo pela internet.


Clodoveu Davis reforça a importância de disponibilizar o novo modelo e a sua aplicação por meio de um software livre. “Os dados sobre hidrografia podem ser úteis para muita gente, beneficiando mais áreas do que se pode pensar”, afirma. Atualmente, os softwares usados pela ANA para implementar essas funcionalidades são proprietários, ou seja, são pagos e têm a cópia ou modificação restringida de alguma forma pelo desenvolvedor ou distribuidor, o que dificulta o acesso a essa tecnologia.