Descoberta é descrita em pesquisa produzida pela Universidade de Bristol em parceria com a UnB e publicada na revista Science.

Diamantes localizados no município de Juína, no estado do Mato Grosso, revelam que o carbono encontrado apenas na superfície do planeta está presente também no manto inferior da Terra, a uma profundidade de pelo menos 660 quilômetros. Minerais encontrados somente a essa profundidade foram identificados no interior das pedras, que são formadas exclusivamente por carbono.


Artigo publicado nesta quinta-feira, 15 de setembro, na revista Science, descreve os resultados do estudo, produzido pela Universidade de Bristol, na Inglaterra, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Instituição Carnegie, nos Estados Unidos.


Leia aqui o resumo do artigo na Science.


A possibilidade da crosta oceânica penetrar em direção ao manto inferior da Terra já era demonstrada por imagens produzidas a partir de tomografias sísmicas e descritas em inúmeras pesquisas, mas nunca havia sido comprovada. O estudo comprova a hipótese ao trazer, pela primeira vez, uma prova material da presença de composição similar à da crosta oceânica no manto inferior mostrando que essa região do planeta também participa do ciclo do carbono.


A formação dos diamantes só ocorre em ambientes com temperaturas a partir de 1.000 graus Celsius e profundidade de 150 quilômetros da superfície, aproximadamente, em áreas chamadas pelo geólogos de manto superior da Terra. Os minerais identificados nas pedras estudadas são formados em locais ainda mais profundos e com temperaturas de cerca de 2.000 graus Celsius, ou seja, no manto inferior da Terra. “A presença dos minerais é uma prova de que esses diamantes se formaram a essa profundidade”, explica uma das autoras do estudo, a professora Débora Passos de Araújo, do Instituto de Ciências Geológicas da UnB. “É uma descoberta importante, do ponto de vista geológico, porque confirma experimentos feitos há pelo menos três décadas”, afirma a professora, que assina o artigo com outros oito pesquisadores, quatro deles de Bristol e quatro de Carnegie.


O estudo mostra também a influência que o material vindo da crosta oceânica exerce sobre o manto terrestre. “É uma evidência importante da reciclagem de materiais entre a superfície e o interior da Terra”, esclarece.


VAIVÉM – 
Para chegar até o manto inferior da Terra através a crosta oceânica, o carbono levou milhões de anos em um processo chamado pelos cientistas de subducção. Ele acontece quando a crosta oceânica entra por baixo da crosta continental. Em conseqüência do encontro, a crosta oceânica penetra em direção ao manto inferior, carregando matéria orgânica. Essa matéria orgânica pode influenciar na formação de minerais típicos dessa região.


Altas temperaturas não são a única característica dessa região do planeta. A pressão no manto inferior é pelo menos quatro vezes maior que à do manto superior. No caminho entre a superfície e o manto inferior, os minerais vão mudando sua estrutura, ficando mais compactos e densos.


Enquanto para chegar ao manto inferior, e influenciar na formação do diamante, o carbono que vai na placa oceânica leva milhões de anos, a subida das pedras à superfície acontece instantaneamente. “É um processo rápido, explosivo. Se não for assim, o diamante é destruído pelo magma”, explica Débora.


RAROS –
 Os diamantes que serviram de amostra para a pesquisa foram encontrados a uma profundidade de 150 quilômetros, em explorações promovidas em Juína pela Rio Tinto, um conglomerado anglo-australiano que atua no setor de mineração. O município, na fronteira com Rondônia, é o local com o maior número de amostras de diamantes profundos encontrados no planeta. “São diamantes raros e, por isso, muito valiosos”, explica a pesquisadora. A primeira ocorrência de diamantes profundos no Brasil foi registrada em 1991. No mundo, a descoberta se deu em 1984.


As pedras foram cedidas à UnB pela empresa em 1995, mas os minerais presentes nunca haviam sido estudados. “Foi curioso como essa pesquisa se iniciou”, conta Débora. “Procurei uma pesquisadora que já conhecia em Bristol, porque queria aprender a técnica de polimento de diamantes e, ao saber que se tratavam das pedras de Juína, ela me convidou para investigarmos os minerais”.