Trabalho traz contribuições para esse campo e seu ensino

Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

 

Apaixonado por Matemática e por Brasília, o professor do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília Raimundo Bastos conta que enxerga, nos ângulos, curvas, retas e números de Brasília, o seu lar. “Antes de chegar, você vê do avião os quadrados e os círculos das plantações. Brasília, onde tudo são números, tem um charme próprio e estritamente matemático, a meu ver. Além das formas bonitas, ela ativa a bússola inerente e você sabe exatamente como chegar a outro lugar”, conta.

 

Ele veio do Ceará especialmente para estudar Teoria de Grupos com o professor Pavel Shumyatsky. “Foi uma recomendação do orientador dele, que foi meu orientando. Conversamos e definimos o trabalho. Sem dúvida, é um aluno brilhante”, assegura Pavel.

 

Ao contrário do estereótipo que muitos poderiam ter, o professor do Departamento de Matemática está sempre às voltas com um filme ou livro. “Gosto muito de literatura, principalmente a fantástica. Ela tem muito a ver com a Matemática, porque é surpreendente e traz, muitas vezes, algo inteiramente novo”, diz.

 

Para Raimundo, a Matemática está presente na natureza e nas pessoas de forma intrínseca, ainda que muitos não se deem conta. “Sempre temos Matemática em nós, seja para achar o caminho mais curto, procurar a maneira mais eficiente de se fazer algo ou evitar desperdícios. Só que isso é instintivo e nem sempre consciente”, afirma.

 

PRÊMIO – Raimundo Bastos foi condecorado no último mês de agosto com o Grande Prêmio UnB de Tese Reinhardt Adolfo Fuck. O trabalho vencedor, Condições de Engel em subgrupos verbais de grupos residualmente finitos, foi defendido em 2014 e buscou estender resultados clássicos desenvolvidos ao longo das últimas décadas, criando avanços e proporcionando novas possibilidades dentro da teoria Matemática. “As Condições de Engel aparecem em diversas áreas da Matemática e foram estudadas por diversos matemáticos. A interação entre essas áreas se dá de forma bastante acentuada entre a Teoria das Álgebras de Lie e a Teoria de Grupos, e minha tese é uma tentativa de estender esses resultados”, explica.

 

O professor acredita que o reconhecimento de seu trabalho veio da inserção em uma área que é tendência no momento. “É o reconhecimento de um estudo que desenvolvi ao longo de dez anos. Meu resultado se encaixa no trabalho de Efim Zelmanov. Estendemos o resultado dele em uma direção diferente e o tornamos muito mais palpável na Teoria dos Grupos”, fala.

 

A tese de Raimundo Bastos tem natureza mais próxima às teorias de grupos e abre novas possibilidades para o estudo da Matemática com potencial aplicação em Química e Física. “O objetivo nessa direção é a tentativa de identificar propriedades comuns a todos os grupos ou, pelo menos, para um conjunto considerável deles. Acredito que podem surgir bons resultados associados nos próximos anos”, declara. O professor explica, em termos simples, como seu trabalho poderia ser aplicado. ”Pode-se comparar com um cubo mágico em como as peças se acoplam. Podemos girar as pecinhas e ver a riqueza que isso é capaz de formar. Em geral, no uso do dia a dia, o número de possibilidades é bem menor”.

 

Professor Raimundo Bastos sentado em degraus
"Não existe graça em solucionar problemas que já foram resolvidos", diz Raimundo Bastos. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

A resolução do problema proposto em seu trabalho levou cerca de um ano e meio até apresentar resultados. “O problema mostrou-se muito difícil. Decidimos simplificá-lo e, depois, voltar ao projeto original”, explica. Raimundo lembra que a estratégia deu certo e o sucesso se deveu à dedicação integral ao trabalho.

 

“Tenho uma caderneta em que coloco a data e começo a escrever. Ela envolve muitas horas de trabalho solitário, porque, como se trata de algo inteiramente novo, é preciso dedicação”, relata.

 

A dedicação de Raimundo está presente também no ensino. “Escolhi essa área porque gosto de desafios. Uma parte da Matemática é fazer o resultado; outra é explicar para o seu aluno. É preciso muito tempo para lapidar todo aquele conhecimento e torná-lo adequado para o estudante”.

 

O professor afirma que a ciência não tem garantia de resultados sempre e defende que a persistência é a chave. “Você precisa se acostumar a se frustrar. O processo envolve não apenas vitórias, mas também derrotas e períodos em que se passa muito tempo tentando resolver algo e não se consegue. Mas o prazer da resolução é demais. Não tem preço. Por isso estudo Matemática. Quanto mais difícil o problema, maior a satisfação em resolvê-lo”, finaliza.

 

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