Projeto foi patenteado pela UnB e é fruto de pesquisa de graduação. Grupo busca recursos para lançar tecnologia que alerta, minutos antes, sobre possível ocorrência do problema

Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

Sensação de fraqueza, fome excessiva, tremores, sudorese, taquicardia, alteração de humor como nervosismo, ansiedade e irritabilidade e até convulsões e perda de consciência. Esses são alguns dos sintomas causados pela queda da taxa de concentração de glicose no sangue: a chamada hipoglicemia. Diabéticos e atletas são o público mais afetado pelo problema. No entanto, métodos não invasivos para facilitar a detecção de uma crise já estão sendo desenvolvidos por uma empresa incubada da Universidade de Brasília.

 

O dispositivo projetado pela EasyThings é capaz de alertar o usuário sobre o estado hipoglicêmico minutos antes de sua ocorrência, o que auxilia na prevenção de episódios mais graves. Patenteado por pesquisadora da UnB, o projeto surgiu de uma pesquisa de iniciação científica do curso de Engenharia Eletrônica, da Faculdade do Gama (FGA).

 

Um bracelete inteligente, apelidado de Easyglic, monitora, de forma não invasiva, a temperatura e a umidade corporal do usuário. Quando ambos passam por alterações que correspondam às do início do estado hipoglicêmico, o sistema eletrônico emite sinais de alerta. O usuário é avisado sobre a proximidade de uma crise com luzes de led, vibração do aparelho e até por envio de mensagens em um aplicativo para celular.

 

“Caso a pessoa não consiga interromper os alarmes, a pulseira emite um alerta para o celular e, por meio do aplicativo, mensagem de socorro é enviada para números previamente cadastrados”, explica um dos sócios da empresa desenvolvedora, Bruno Ribeiro Soares.

 

Até o momento, o protótipo desenvolvido possibilita reconhecer um episódio até três minutos antes de a crise ocorrer. Entretanto, a ideia é que a versão final, que deverá estar pronta até o fim do ano, consiga alertar o usuário com maior antecedência, de cinco minutos. Além disso, o histórico de informações coletadas pelo bracelete poderá ser armazenado no aplicativo para smartphone.

 

Segundo Egmar Rocha, sócio da empresa, a ideia é que o produto venha dar suporte às pessoas que tenham maior dificuldade para identificar o quadro, especialmente idosos e crianças. Outra vantagem é que o bracelete será disponibilizado a preços mais acessíveis que o de outros produtos similares no mercado, além de possuir design atraente e ser mais confortável.

 

Rocha alerta que a tecnologia não confere um diagnóstico, nem substitui os glicosímetros, aparelhos utilizados para monitorar os níveis de açúcar por meio de amostras de sangue retiradas da ponta dos dedos: ela dá indicativos da hipoglicemia.

 

Testes em humanos já foram realizados na fase de pesquisa e deverão ser feitos novamente em um grupo maior de pessoas. Os sócios da EasyThings estão buscando investidores para lançar o produto. A empresa já fez campanha de financiamento coletivo para o projeto, mas não obteve sucesso. “Nossa dificuldade hoje é ter esse recurso para sair da fase de desenvolvimento e definição do produto e colocá-lo no mercado”, ressalta Rocha.

 

PESQUISA – O estudo que deu origem ao produto foi coordenado há dez anos pela professora Suélia Rodrigues, da FGA. A primeira etapa envolveu o mapeamento das prováveis variações indicadoras da hipoglicemia por meio da aplicação de formulários para pacientes com diabetes e familiares. Com as informações obtidas, verificou-se a umidade da pele e a temperatura como determinantes quando há a queda das taxas de glicose no sangue.

 

Coordenadora da pesquisa que deu origem ao Easyglic, Suélia Rodrigues utilizou como parâmetros para o dispositivo temperatura e umidade corporal. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

“Nos levantamentos bibliográficos e nos questionários que aplicamos, uma das variáveis verificadas foi a variação da resistência da pele. Ela resseca muito em função da vascularização e em questão da resposta de umidade”, relata a coordenadora da pesquisa.

 

O próximo passo foi conceber um dispositivo com os sensores de baixo custo que pudessem fazer a leitura desses parâmetros de forma precisa. O projeto, além de pensar uma tecnologia não invasiva, priorizou a detecção de forma personalizada, pois as leituras realizadas das variáveis observam o estado considerado normal para um paciente em específico, para que assim possam ser medidas as alterações em seu organismo.

 

“Nós trabalhamos na montagem de um leiaute, fizemos alguns ensaios simulando em bancada e in vivo. Após passar pelo Comitê de Ética, e ser aprovado em 2013, nós testamos em um número pequeno de pacientes, já que não tínhamos financiamento”, explica a professora.

 

Após esse processo, o equipamento pôde ser patenteado. Interessada em desenvolver a tecnologia, a EasyThings buscou a professora, tempos depois, para dar o início ao processo de transferência e licenciamento de tecnologia, que permite tornar o projeto patenteado um produto para comercialização. O projeto, então, passou por adaptações para melhoria de sua aplicabilidade.

 

CAUSAS – Segundo dados de 2014 da Organização Mundial da Saúde, 422 milhões de adultos no planeta têm diabetes, número que quadruplicou em pouco mais de 30 anos. O Brasil é o quarto país em quantidade de portadores da doença. As principais causas da hipoglicemia são dosagens excessivas de insulina e de medicamentos para diabetes, consumo de álcool, deixar de realizar uma das refeições do dia ou fazer exercícios físicos mais intensos. Quanto mais rápido os sinais são diagnosticados, mais imediata poderá ser a reversão do quadro. Algumas dicas podem auxiliar no tratamento dos sintomas menos graves da hipoglicemia. Confira:

 

Arte: Marcelo Jatobá/Secom UnB