Popular na África, grão pode cair no gosto do brasileiro. Pesquisadores estudam formas de inseri-lo no mercado

Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

Ainda pouco conhecido no Brasil, o sorgo – comum no continente africano – pode fazer parte da mesa do brasileiro em breve. Em parceria com a Embrapa, a Universidade de Brasília tem estudado o grão, que se mostra um dos melhores cereais para uso na alimentação humana tanto por suas propriedades nutricionais quanto pela facilidade de plantio.

 

"Um tipo do grão – de 30 mil tipos diferentes [ou acessos, como chamam os especialistas] – com maior potencial de uso na alimentação humana está em teste", conta o agrônomo Lúcio Flávio de Alencar Figueiredo, professor do Departamento de Botânica da UnB.

 

O pesquisador diz que o sorgo é um alimento rico em fibras, proteínas, carboidratos e propriedades antioxidantes, além de ser livre de glúten. Por isso, pode ser indicado para pessoas que sofrem de obesidade e diabetes ou têm reações adversas ao glúten, presente, por exemplo, no trigo e na cevada, caso dos celíacos. “É ainda uma planta de fácil crescimento, que se adapta bem ao nosso clima”, completa.

 

Segundo o professor, ele é usado, no país, como ração animal e encontrado em poucos produtos à venda no mercado.

 

"O plantio se dá na entressafra e, após a colheita, a produção é praticamente toda consumida por aves, suínos e bovinos", diz. "Por isso, é difícil encontrá-lo para consumo no dia a dia", explica Lúcio.

 

Professor Lúcio Flávio de Alencar Figueiredo: "O Brasil é o 9o produtor de sorgo no mundo". Foto: Beatriz Ferraz / Secom UnB

 

O pesquisador observa que o sabor do grão parece ser apreciado por quem já conhece o produto. "De 12 opções, o pão de sorgo chegou a ser, no último mês, o segundo mais vendido em uma loja de produtos naturais de Brasília”, conta.

 

SEGURANÇA ALIMENTAR - Primo de cereais como trigo, arroz, milho e cevada, o sorgo é facilmente utilizado na culinária.

 

A farinha pode ser aproveitada no preparo de pães, massas, biscoitos, mingaus, bolos e tortas, e o grão em pratos, como saladas, cuscuz marroquino e mungunzás doces [canjica] e salgados [no Brasil, o prato, uma mistura de legumes e pedaços de carnes, leva milho; na África, ele é consumido com sorgo]. Cereais matinais, barrinhas de cereais e até mesmo cerveja e pipoca podem ser feitos do grão africano.

 

O pesquisador conta que o pão e o macarrão de sorgo estão em estudo no Departamento de Nutrição Humana da UnB. E, nos EUA, diversos produtos à base de sorgo são comercializados.

 

"Apenas doze espécies de cerca de trezentas mil plantas que florescem são usadas na alimentação humana, fornecendo 80% da ingestão calórica de toda a humanidade”, diz Lúcio. "Um cardápio diversificado é uma questão de segurança alimentar e nutricional", afirma.