Tecnologia permite simular processos biológicos complexos, permitindo a experimentação de medicamentos e equipamentos de forma não invasiva

Foto: Divulgação

 

Liderado pela professora da Faculdade de Ciências e Tecnologias em Engenharia (FCTE) Suélia Fleury, o projeto de pesquisa ChipEny utiliza a tecnologia Organ-on-a-Chip (OoC) para mimetizar estruturas e funções de órgãos e tecidos. Ou seja, ele possibilita imitar o funcionamento de um corpo vivo.

 

Recentemente, o projeto depositou duas patentes que protegem tecnologias voltadas ao cuidado de feridas crônicas, como as associadas ao pé diabético, e efetivou ainda a criação da spin-off BioEny Engineering. Por meio da empresa, será conduzida a etapa regulatória para viabilizar a futura produção em escala da tecnologia, a depender da transferência tecnológica.

 

Como em toda pesquisa, quando uma investigação científica começa a caminhar para sua aplicação, novas perguntas surgem, conta a professora Suélia. Este foi o caso do ChipEny, que nasceu em continuidade ao projeto Rapha, desenvolvido para tratar o pé diabético com curativos de látex e luz de LED.

 

“Ver o Rapha avançar até a fase de transferência para a indústria e se aproximar da vida real dos pacientes confirmou que podemos efetivamente contribuir para melhorar a vida das pessoas”, afirma a coordenadora do grupo de Engenharia Biomédica da UnB. 

Grupo do projeto ChipEny em discussão acadêmica e científica, em abril de 2023. Foto: Arquivo pessoal

 

Ela conta que, com esse espírito, surgiu a necessidade de criar um chip nacional que pudesse, além de analisar a angiogênese vinculada ao tratamento do pé diabético, adaptar-se para testar equipamentos médicos.

 

A ideia foi submetida em 2022 ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no âmbito das bolsas de Desenvolvimento Tecnológico (DT), e aprovada, com renovação em 2025. Ainda em fase conceitual foi compartilhada com o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que é o coinventor da patente. 

 

PROTÓTIPO – De acordo com a Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) “a tecnologia Organ-on-a-chip (OoC) vem sendo apontada como um avanço promissor da bioengenharia”. Os chips com essa tecnologia são dispositivos microfluídicos tridimensionais capazes de cultivar células vivas em microcanais, reproduzindo funções fisiológicas de órgãos humanos em escala reduzida.

 

Dentro dessas pequenas placas, células específicas como cardíacas, hepáticas ou pulmonares, por exemplo, podem ser organizadas em matrizes tridimensionais que imitam a arquitetura dos tecidos reais. O que originou-se da ambição de desenvolver uma plataforma nacional capaz de simular processos regenerativos, avança ao permitir não apenas a investigação de fenômenos biológicos como novos fármacos ou reações teciduais.

 

Além da aplicabilidade em testar a interação entre terapias regenerativas e equipamentos médicos, como o emissor de luz do Equipamento Rapha, o ChipEny se destaca ao atender às novas diretrizes regulatórias que restringem o uso de animais em testes. “Ele abre um caminho real para substituir modelos animais e acelerar a transição das tecnologias de saúde para o mercado”, diz a professora. Ela acredita que este é um marco de grande avanço científico. 

 

O projeto conta com uma sólida rede de instituições que garantem o avanço da pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Também conta com emendas parlamentares para financiar fases avançadas do desenvolvimento.

 

Já a estrutura da UnB – com o Parque Científico e Tecnológico (PCTec), o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT), a Agência de Comercialização de Tecnologias (ACT) e o Núcleo de Propriedade Intelectual (Nupitec) – apoia a proteção intelectual e a transferência de tecnologia.

 

No setor produtivo, as empresas Life Care Medical e BioEny Engineering & Medical Solutions assumem o desafio de transformar os protótipos em produtos industriais, fechando o elo entre ciência, inovação e impacto social. “Estruturamos um ecossistema em que universidade, indústria e políticas públicas caminham juntas para transformar pesquisa em solução real , comenta Suélia.

 

SUCESSO – O desempenho recente do grupo demonstra a qualidade da pesquisa conduzida, responsável por tecnologias premiadas, como o Equipamento Rapha – dispositivo que auxilia a cicatrização de feridas de pessoas diabéticas e campeão nacional e regional no XIX Encontro Nacional do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec) 2025. 

Protótipo Sofia, desenvolvido na UnB, ganhou prêmio de inovação em saúde, na 16ª edição do Prêmio de Incentivo em Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS. Foto: Erasmo Salomão/MS

 

A equipe ainda é responsável pela Máscara Vesta, que também superou o chamado “Vale da Morte” da inovação em saúde, atravessando todas as etapas – do conceito aos registros na Anvisa e no Inmetro – até se tornarem produtos com potencial comercial. O projeto recebe novo reconhecimento em 2 de dezembro.

 

O grupo ainda venceu o Prêmio Inovação Científica, ficando em primeiro lugar na categoria que reconhece produtos capazes de gerar melhorias para o SUS, com o Projeto Sofia, voltado ao tratamento do câncer de fígado.

 

“A pesquisa não para. Nosso objetivo agora é que a Universidade colha royalties, porque isso significa que a tecnologia chegou ao sistema de saúde e está melhorando vidas”, comenta Suélia, sobre a trajetória de sucesso.

 

Além de premiações nacionais e internacionais, o grupo tem ampliado sua presença global em eventos como EMBC e BMES (EUA), encontros do Institut Pasteur (Uruguai) e iniciativas de integração com Chile e Cornell University.

 

 

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