Super computador poderá decifrar códigos de segurança atuais. Pesquisadores criam ferramenta capaz de proteger informações confidenciais até daqui a 100 anos.

O computador quântico só existe na teoria. Por enquanto. Pesquisada por cientistas de todo o mundo, essa supermáquina teria uma capacidade de processamento tão grande que os códigos de segurança atuais seriam decifrados em poucos minutos. Para evitar ameaças de invasão de privacidade ou mesmo de segurança nacional, um grupo de pesquisadores da UnB desenvolveu um sistema de proteção da informação resistente a possíveis ataques desses computadores.


O problema da segurança de dados na era do computador quântico esperava por uma solução há mais de 15 anos. O professor Anderson Nascimento, coordenador do Grupo de Criptografia do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB, explica que os sistemas atuais de segurança têm um problema matemático que depende de uma solução eficiente de fatoração, o que ainda não pode ser resolvido pelos computadores atuais. “Boa parte da segurança da internet depende da dificuldade de fatorar”, diz.


“O grande diferencial desse trabalho é que se alguém criar o computador quântico, a base de segurança dos computadores atuais não seria atacada. Do jeito que o sistema foi concebido, é um sistema seguro”, diz o professor João Gondim, do Departamento de Ciência da Computação. “O mérito do trabalho é propor uma solução inovadora, já que não havia uma proposta de sistema de comunicação que tivesse alto nível de segurança e que fosse resistente a ataques quânticos. Abre toda uma avenida de soluções para problemas futuros de proteção de informação”.


O professor Gondim explica que cada avanço em tornar os sistemas mais seguros provoca reações para testar a segurança. “É como se fosse um jogo de gato e rato”, diz. “E nós, cientistas, internalizamos esse jogo do gato e rato. Temos que pensar em como isso seria quebrado. Pensar como invasor é parte do processo de elaboração do protocolo”. Neste caso, o gato se adiantou em relação ao rato. Cientistas estimam que o computador quântico só vai virar realidade daqui a 50 ou 100 anos.


CRIPTOSSISTEMA -
O grupo de criptografia da UnB criou o “primeiro criptossistema de chave pública com o maior nível de segurança possível (segurança contra ataques adaptativos de texto cifrado escolhidos no modelo padrão). “Como acredita-se que um computador quântico é só uma questão de tempo, necessitamos de alternativas de segurança que não dependam da dificuldade de fatorar”, diz Anderson.


Os resultados foram apresentados em uma das mais importantes conferências da área, a RSA Conference Cryptographers Track, em 2009. Para um trabalho ser publicado nessa conferência, ele passa pela revisão de três matemáticos notórios escolhidos pela comunidade internacional de criptografia. Ser publicado significa ser endossado pelos especialistas e aceito pela comunidade.


“Nós temos uma prova matemática da segurança do sistema. A publicação do resultado na RSA Conference Cryptographers Track significa sua validação pela comunidade científica”, afirma Anderson. O professor explicou que problemas matemáticos são passíveis de prova, mas que é possível que o resultado seja contestado por algum cientista, o que ainda não aconteceu. “É claro que existe sempre uma possibilidade de erro, mas eu creio que não seja o caso”, justifica.


ORIGEM -
Em estudos feitos em 1994, o cientista americano Peter Shor mostrou que os computadores clássicos (tradicionais) são incapazes de fatorar grandes números de forma eficiente e é isso o que garante a proteção da maioria dos sistemas de segurança de informação atuais.


Por meio de provas matemáticas, o cientista chegou à conclusão de que um computador baseado na física quântica, capaz de fatorar muito mais rapidamente do que os computadores clássicos, seria capaz de criar fórmulas para quebrar os sistemas de segurança, ameaçando a maioria dos sistemas baseados em criptografia.


Hoje, mais de 15 anos depois, cientistas de todo o mundo estudam formas de produzir esse computador quântico. Até agora, a supermáquina ainda não saiu do papel.


“O problema da criptografia sempre existiu, não veio com o computador. Sempre houve a preocupação de passar mensagens seguras”, diz o professor do departamento de Engenharia Elétrica Alexandre Romariz. “Com o avanço da modernidade, a importância de se ter confiança nos sistemas de comunicação só veio a aumentar e o sistema do grupo de criptografia contempla os avanços dos sistemas invasivos”.