Estudo colabora para compreender atuação do vírus e incidência de câncer de colo de útero, além de ajudar na fabricação de vacinas.

Pesquisa da Universidade de Brasília identificou mutações do Vírus do Papiloma Humano (HPV), um dos vilões do câncer de colo de útero, o segundo que mais mata mulheres no Brasil. O doutorado em Biologia Molecular Análise da variabilidade genética, filogenia e expressão gênica de HPV de alto risco no DF, defendido em março de 2009, detalhou mutações em cinco tipos de HPV. O estudo também analisou a expressão gênica do tipo 58, o segundo mais comum no Distrito Federal.


Existem mais de 100 tipos de vírus HPV. Cerca de 50 deles infectam a mucosa uterina e estão ligados ao desenvolvimento do câncer de colo de útero. A pesquisa observou cinco tipos virais: 31, 33, 35, 52 e 58, todos ainda pouco estudados no país. Tainá Raiol Alencar, autora do estudo, analisou amostras coletadas em cerca de 300 mulheres do DF e do Entorno. Das células encontradas na mucosa, extraiu o vírus e seu DNA. Com técnicas moleculares, ela identificou três regiões do genoma viral - sequências de DNA do vírus - onde foi possível encontrar as mutações.


Na segunda etapa da pesquisa, Tainá analisou detalhadamente as amostras do vírus 58, o segundo com maior prevalência na capital federal, ficando atrás somente do tipo 16. Segundo a pesquisadora, ainda não é possível dizer como essas mutações interferem na atuação do vírus ou no desenvolvimento de um câncer. Mas os resultados colaboram para compreender melhor as manifestações da doença e para o desenvolvimento de vacinas.


A pesquisa foi apresentada no International Papillomavirus Conference, que aconteceu em Mälmo, Suécia, entre 8 e 14 e maio deste ano, e recebeu o prêmio de melhor pôster do evento.


RISCOS -
Cerca de 75% da população feminina têm o HPV. Nos últimos anos, foram desenvolvidas duas vacinas preventivas para o HPV 16 e 18. As três doses da vacina custam cerca de R$ 800. “É preciso estar atento para verificar a prevalência desses vírus, desenvolver medicamentos e verificar a eficácia dessas vacinas. Precisamos de um monitoramento”, aponta Tainá Alencar.


"É fundamental estudar essas variantes. Estudos mais aprofundados podem observar como os vírus com mutações podem se comportar no hospedeiro”, diz Daniela Marreco Cerqueira, especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa. Daniela é doutora em Biologia Molecular pela UnB e seu estudo, concluído em 2007, analisou o HPV em mulheres portadoras do vírus da Aids.


O grupo de pesquisa de virologia da UnB, do Programa de Pós-graduação em Biologia Molecular é um dos poucos que estuda o HPV no Distrito Federal. Daniela Cerqueira ressalta que os dados da pesquisa de Tainá vão ajudar no acompanhamento da prevalência do HPV na região.

 

HPV COM NOVAS MUTAÇÕES (VARIANTES)

Vírus tipo 31 – quatro variantes encontradas

Vírus 33 – duas variantes

Vírus 35 – uma variante

Vírus 52 – duas variantes

Vírus 58 – três variantes