Projeto da Agência Espacial Brasileira é liderado pela Universidade de Brasília, em parceria com instituições nacionais e estrangeiras.

Da UnB Agência

Já está em Tsukuba, no Japão, o satélite de pequeno porte CubSat desenvolvido por estudantes da Universidade de Brasília e de outras instituições de nível superior nacionais e internacionais.


Criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), o projeto Serpens – Sistema Espacial para a Realização de Pesquisa e Experimentos com Nanossatélites – buscará coletar, armazenar e retransmitir dados ambientais, usando bandas de frequência de rádio.


Ele pode captar qualquer tipo de informação, porém, neste início, enviará dados relacionados às condições do clima perto das universidades que integram o consórcio acadêmico. Da Terra, o pessoal envolvido no projeto poderá fazer o download desses dados.


A previsão é de que nesta terça-feira (14) ele seja integrado ao veículo lançador japonês que, em 16 de agosto, o levará até Estação Espacial Internacional – já em órbita.


De lá, em outubro, o nanossatélite será ejetado e iniciará sua missão, inspirada no Sistema Brasileiro de Coleta de Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável por colher informações ambientais do Brasil.

Divulgação/Projeto Serpens
Equipe do Serpens (de azul) junto à equipe do Laboratório de Integração e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LIT/Inpe), em São José dos Campos (SP)


Nanossatélite Serpens mede 10 x 10 x 30 cm e pesa cerca de 3 kg


Aluno do sétimo semestre de Engenharia Aeroespacial da UnB, Igor Kinoshita foi um dos responsáveis por levar o nanossatélite Serpens até Tsukuba e acompanha de perto, no Japão, a etapa de integração do artefato ao veículo lançador.


"A experiência de construção do Serpens foi única, pois tivemos a oportunidade de ter contato com diversos profissionais da área de sistemas espaciais, o que possibilitou a absorção de um conhecimento de extrema complexidade de que o Brasil carece", avalia.


Os estudantes dos cursos de Engenharia Aeroespacial e de Engenharia Elétrica dividiram tarefas com alunos das universidades federais de Santa Catarina (UFSC), do ABC (UFABC), de Minas Gerais (UFMG), do Instituto Federal Fluminense (IFF), além de universidades da Espanha (Universidade de Vigo), dos Estados Unidos (Morehead State University e California State Polytechnic) e da Itália (Sapienza Università di Roma).


Equipe do Serpens, da direita para a esquerda: Igor Kinoshita, Chantal Cappelletti, Alberto Gonzalez, Antonio Vazquez, Diego Nodar, Nivaldo Lopo Junior, Gabriel Figueiró, Shimpei Waseda (Agência Espacial Japonesa - JAMSS/JAXA), Bruno Amui, Shigeru Imai (JAMSS/JAXA)


"Há também o crescimento pessoal, de trabalho em equipe, já que, para tirar do papel um sistema tão complexo quanto um satélite, todos devem desempenhar sua atividade de forma eficaz", ressalta Kinoshita.


Ex-aluno de Engenharia Mecatrônica da UnB e hoje bolsista da Agência Espacial Brasileira, Gabriel Figueiró teve oportunidade de participar da construção do Serpens com os estudantes – e também está no Japão acompanhando o projeto pela AEB. "A experiência foi muito enriquecedora. Para tornar esse projeto possível, tivemos que lidar com desafios técnicos, dificuldades burocráticas, regulamentações nacionais e internacionais, entre outros. Eu [no papel de líder de investigação] emprestei meus conhecimentos técnicos aos estudantes e mantive todas essas atividades em andamento, sempre envolvendo pelo menos um estudante em cada processo", conta Figueiró, que foi aprovado dentro das vagas no primeiro concurso realizado pela AEB e aguarda nomeação.


Segundo ele, uma das atividades mais importantes na Agência Espacial é o apoio ao desenvolvimento tecnológico junto às universidades. "Fui estudante universitário em formação com apoio da AEB. Trabalhar lá dentro é muito legal, principalmente pelo órgão estar em conjunto com as universidades e por estender oportunidades semelhantes às que tive para os atuais estudantes", diz Figueiró.

Divulgação/Projeto Serpens
Nanossatélite Serpens mede 10 x 10 x 30 cm e pesa cerca de 3 kg


Equipe do Serpens (de azul) junto à equipe do Laboratório de Integração e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (LIT/Inpe), em São José dos Campos (SP)


Coordenadora do projeto na UnB, a professora Chantal Cappelletti, da Faculdade UnB Gama, explica que a Universidade assumiu a liderança do Serpens porque há diversos docentes com experiência na área de microssatélites – há pelo menos outros quatro colegas envolvidos.


Chantal, por exemplo, desenvolveu e lançou quatro satélites nos últimos quatro anos. "Depois de compartilhar conhecimento com as outras universidades, a liderança passa para uma delas. O Serpens II [que dará sequência ao projeto atual] será liderado pela Universidade Federal de Santa Catarina", afirma.


A professora ressalta que um dos usos mais relevantes dos nanossatélites é justamente em projetos educacionais. "Como envolvem menos recursos e podem assumir mais riscos, atividades espaciais, que eram muito exclusivas, passam a ser mais acessíveis a diferentes grupos. Missões de baixo custo com nanossatélites podem ser conduzidas com o envolvimento direto de jovens engenheiros, cientistas ou mesmo estudantes sem muita experiência", detalha.


"O efeito esperado é que eles aprendam na prática sobre tecnologia espacial e, no futuro, possam contribuir com diferentes atividades-chave para o avanço da área no Brasil", conclui.